Gabriela Freire Valente
postado em 29/01/2017 08:00
Os primeiros dias de Donald Trump no comando da Casa Branca representaram um banho de água fria para os que duvidavam da rápida implementação da agenda de campanha do republicano. Com uma série de ordens executivas, o magnata, estreante na política, começou a dar forma a algumas de suas mais polêmicas promessas eleitorais. Sem que ele abandonasse o Twitter, temas como saúde, imigração e comércio estiveram na mira da caneta presidencial (veja arte), enquanto o recém-empossado chefe de Estado travava uma briga com a imprensa. Em meio a protestos nas ruas, o mercado financeiro norte-americano reagiu bem ; muito bem ; à primeira semana de governo Trump, e o índice Down Jones Industrial chegou ao recorde de 20 mil pontos na quinta-feira.
Apesar da promessa dos democratas de reagirem à plataforma de Trump, a oposição pouco pode fazer para freá-lo. O republicano abriu caminho para desmantelar políticas da gestão anterior e tocou em questões caras aos opositores, mesmo diante de manifestações quase diárias nas principais cidades. A despeito da maioria no Congresso, Trump deverá ter dificuldades para colocar em prática detalhes da agenda.
A expectativa de analistas era de que o republicano adotasse uma postura menos hostil, especialmente na retórica. ;O que surpreende é que não tem havido qualquer tipo de freio aos excessos da personalidade dele;, observa Marco Meneses, coordenador do curso de relações internacionais do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb). O estudioso pondera que é cedo para avaliar os riscos políticos de uma prolongada abordagem agressiva da Casa Branca, mas recorda que a posição de Trump não é das mais confortáveis. ;Ele perdeu no voto popular para Hillary Clinton com mais de 3 milhões de votos, o que é muito expressivo, e chegou à Casa Branca com baixos níveis de aprovação, para um presidente que está tomando posse;, destaca. ;Ele parece ter entrado em um jogo de alavancar medidas que possam retomar os índices de aprovação, apelando ao público conservador que o elegeu, mas muitas medidas causam bastante espanto;.
Turbulência inusitada
Meneses considera preocupante a possibilidade de as ações de Trump inflarem a xenofobia e classifica como ;mais do que uma crise diplomática; o abalo nas relações EUA-México ante a insistência em construir um muro na fronteira e mandar a conta para o presidente Enrique Peña Nieto. ;Além de aliado muito próximo e vizinho, o México é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA. Criar uma crise diplomática como essa com um país aliado, em sua primeira semana de governo, é algo inédito.;
O estudioso prevê meses de instabilidade até que os rumos do governo fiquem mais claros. Daniela Marques Medeiros, professora de relações internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), compara o comportamento de Trump ao de um animal ameaçado. ;Parece que elegeram um personagem, o problema é que ele vai implementar o que falava em campanha. Ele não é nada sutil.;