Agência France-Presse
postado em 03/02/2017 14:07
Duas embarcações resgataram nesta sexta-feira (3/2) mais de mil migrantes ao largo da costa da Líbia, um "pesadelo", segundo denunciaram organizações humanitárias.
As operações no Mar Mediterrâneo continuavam após o resgate de mais de 1.750 migrantes entre quarta e quinta-feira, informou a guarda costeira italiana, que evocou "várias operações" em curso nesta área.
Dois barcos, "Aquarius" da SOS Mediterrâneo e Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o "Golfo Azzurro" da Proactiva Open Arms, resgataram mais de mil pessoas apenas nesta sexta-feira de manhã, mesmo dia da cúpula europeia em Malta sobre a migração ilegal no Mediterrâneo.
"Estamos vivendo um pesadelo absoluto neste momento. A situação está além de nossas capacidades, resgatamos cinco embarcações e ainda há três à espera", escreveu em um tuíte Ed Taylor, um dos responsáveis %u200B%u200Bpela operação no "Aquarius".
"Não há barcos de resgate suficiente na área (...). Pedimos ajuda, mas ninguém pode vir", acrescentou.
"Há queimados pelo combustível, feridos, bebês ... Um dia difícil", comentou Proactiva em um tuíte.
Dois grandes navios de resgate, o "Diciotti" da guarda costeira italiana e o norueguês "Siem Pilot", da Frontex, estavam ocupados no desembarque de migrantes salvos na quarta e quinta-feira.
Paralelamente, em Malta, os líderes europeus reuniram-se em busca de uma resposta conjunta à crise da migração, um fenômeno que divide o velho continente.
Um dia antes do início da cúpula, a Itália e a Líbia assinaram um acordo com o objetivo de fechar a principal rota de chegada de imigrantes ilegais na Europa através do Mediterrâneo.
O primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, e o seu colega líbio, Fayez al-Sarraj, concordaram em reforçar a luta contra o tráfico de seres humanos.
Além disso, a Itália comprometeu-se a fornecer recursos financeiros, materiais e sanitários em troca do controle da migração e da criação de polêmicos centros de detenção.
A Itália também irá fornecer "apoio técnico e tecnológico" à guarda costeira da Líbia e ao ministério do Interior líbio, encarregado de diminuir o fluxo de partidas.
A ideia de criar campos de detenção neste país não é nova: em 2008 já aparecia em um acordo celebrado entre o então primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e o líder líbio Muammar Khaddafi, posteriormente morto.
A ideia de bloquear os migrantes africanos na Líbia, país que atravessa uma crise política sem precedentes, não parece uma solução, ressaltam as organizações humanitárias. Muitos migrantes denunciaram abusos e tortura cometidos nos chamados centros de acolhimento líbios.
"Os líbios atiraram em nós como se fôssemos cães", relatou o jovem Boubacar, nascido na Guiné, de acordo com a porta-voz da SOS Mediterrâneo.
Cerca de 7.000 imigrantes chegaram às costas italianas desde o início do ano, enquanto cerca de 227 morreram ou desapareceram em janeiro em frente à costa da Líbia, segundo dados da ONU.