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Organização acusa forças sírias de usar armas químicas em Aleppo

O cloro como arma de guerra é proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, assinada pela Síria em 2013 sob pressão de Moscou

Agência France-Presse
postado em 13/02/2017 16:00
As forças do governo sírio realizaram pelo menos oito ataques com armas químicas durante as últimas semanas da batalha pelo controle de Aleppo, matando nove pessoas, incluindo quatro crianças, informou nesta segunda-feira a organização Human Rights Watch (HRW).

O grupo de defesa dos direitos Humanos explicou em um relatório ter entrevistado testemunhas, fotografado e analisado sequências de vídeos que %u200B%u200Bindicam que helicópteros dispararam bombas de cloro durante a ofensiva contra Aleppo entre 17 de novembro e 13 de dezembro.

Cerca de 200 pessoas foram afetadas pelos gases tóxicos usados %u200B%u200Bem áreas da cidade controladas pela oposição, de acordo com a HRW.

O verdadeiro número de ataques químicos poderia ser maior, afirma o grupo, acrescentando que jornalistas, médicos e outras fontes confiáveis relataram pelo menos 12 ataques nesse período.

Um dos ataques mais mortais aconteceu em 20 de novembro no bairro de Al-Sakhour, onde seis membros da mesma família foram mortos, incluindo quatro crianças, cujos corpos foram expostos em um vídeo divulgado pela agência de notícia Shabha.

O relatório da HRW detalha ataques em uma praça, clínicas, ruas residenciais e casas, que provocaram muitos casos de insuficiência respiratória, vômitos e perdas de consciência.

"Os produtos químicos afetam as crianças mais severamente (...), elas inalam esses gases e acabam sufocando", diz o primeiro entrevistado citado no relatório.

Não há evidências de participação russa

As forças sírias, apoiadas pela Rússia, lançaram em novembro uma ofensiva para recuperar o controle da zona leste de Aleppo, um campo de batalha chave na guerra da Síria, que já se arrasta por quase seis anos.

O regime anunciou em 22 de dezembro que já tinha o controle de toda a cidade.

"Os ataques com cloro mostram que faziam parte da estratégia militar global para recuperar Aleppo, e não o trabalho de alguns elementos isolados", indicou Ole Solvang, vice-diretor da HRW para emergências.

O cloro como arma de guerra é proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, assinada pela Síria em 2013 sob pressão de Moscou.

A Human Rights Watch solicitou ao Conselho de Segurança da ONU que aprove sanções contra os membros da cadeia de comando do exército sírio, mas provavelmente uma iniciativa semelhante será vetada pela Rússia, um aliado de Damasco na guerra.

Afirmou que não havia nenhuma evidência de que Moscou tenha estado diretamente envolvido no uso de armas químicas, embora aviões russos tenham desempenhado um papel na ofensiva militar contra combatentes da oposição no leste de Aleppo.

França e Grã-Bretanha pressionam o Conselho de Segurança para proibir a venda de helicópteros à Síria e impor sanções aos mais altos dirigentes e entidades militares sírias ligadas ao desenvolvimento de armas químicas.

Uma investigação conjunta pelas Nações Unidas e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, por sua sigla em inglês) concluiu que várias unidades do Exército sírio haviam usado armas químicas contra três povoados do norte da Síria em 2014 e 2015.

Foi a primeira vez que evidências implicando as forças do presidente Bashar al-Assad foram recolhidas, após anos de negação de Damasco.

A Rússia, porém, expressou dúvidas sobre as conclusões do inquérito, alegando que não eram suficientes para aprovar sanções.

Um novo relatório do painel da ONU-OPCW será lançado no final deste mês.

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