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Governo Trump enfrenta sua primeira crise

O general da reserva Michael Flynn renunciou na segunda-feira (13/2) à noite ao cargo, após a crise provocada por suas polêmicas conversas em dezembro com o embaixador russo em Washington

Agência France-Presse
postado em 14/02/2017 15:19

O general da reserva Michael Flynn renunciou na segunda-feira (13/2) à noite ao cargo, após a crise provocada por suas polêmicas conversas em dezembro com o embaixador russo em Washington

O governo do presidente americano, Donald Trump, procurava nesta terça-feira (14/2) superar sua primeira crise, ante a intempestiva renuncia de seu conselheiro de Segurança Nacional. O general da reserva Michael Flynn renunciou na segunda-feira (13/2) à noite ao cargo, após a crise provocada por suas polêmicas conversas em dezembro com o embaixador russo em Washington.

[SAIBAMAIS]Em dezembro, quando Barack Obama ainda era presidente dos Estados Unidos, Flynn manteve uma conversa com o embaixador Sergei Kislyak, durante a qual abordaram a questão das sanções americanas contra Moscou. Na carta de demissão, Flynn admite que "transmitiu sem querer ao vice-presidente eleito e a outros informações incompletas sobre suas conversas telefônicas" com o embaixador russo Sergei Kislyak.

Esta é a primeira baixa na equipe mais próxima de Trump, apenas quatro semanas depois da posse do republicano. De imediato, Trump nomeou o general da reserva Joseph Kellogg para ocupar de forma interina o posto de conselheiro de Segurança Nacional, de acordo com a Casa Branca.

Kellogg é um dos três favoritos para ocupar o cargo. Os outros dois são o vice-almirante Robert Harward, ex-comandante adjunto do Comando Central americano, e general da reserva David Petraeus, ex-diretor da CIA. Petraeus renunciou ao cargo de chefe da CIA após um enorme escândalo. Ele compartilhou informações secretas com sua amante, uma jornalista que escrevia um livro a seu respeito.

Petraeus foi condenado a dois anos de liberdade condicional, que acaba em abril.

Crise interna


Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a renúncia é "um assunto interno dos Estados Unidos, um assunto interno da administração do presidente Trump. Não é um assunto nosso". Nesta terça-feira (14/2), o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, declarou que Flynn renunciou após Trump exigir sua saída.

"Não podemos ter um conselheiro de Segurança Nacional que transmite informações incompletas ao vice-presidente e a outros. Por isso, acredito que o presidente fez certo ao pedir sua renuncia", apontou. Já o Comitê Nacional do Partido Democrata afirmou em uma declaração que "Flynn se foi, mas o problema não (...) As evidências sugerem que Flynn atuou para minar as sanções impostas à Rússia".

Apesar da saída do conselheiro, a crise continua, uma vez que não está claro se Trump soube ou não das conversas de seu conselheiro. Michael Flynn caiu diversas vezes em contradições ao tentar explicar o teor de suas conversas com o diplomata russo e chegou a envolver o vice-presidente Mike Pence, que saiu em sua defesa em várias oportunidades.

De acordo com o texto de renúncia, ele pediu desculpas ao vice-presidente Mike Pence e ao presidente Trump, "e eles aceitaram minhas desculpas". Sobre a demora para tomar uma atitude em relação a Flynn, Kellyanne Conway, conselheira pessoal de Trump, afirmou que "o presidente é muito leal".

"A situação se tornou insustentável ontem (segunda-feira) à noite, e o presidente aceitou a renuncia do general Flynn". Os congressistas democratas exigiam que Flynn renunciasse ou fosse demitido, enquanto os republicanos haviam optado por permanecer em silêncio.

A polêmica explodiu em janeiro quando veio à tona que Flyyn havia conversado Kislyak, mas o agora ex-conselheiro sempre negou ter abordado o tema das sanções americanas contra Moscou. Em 15 de janeiro, cinco dias antes da posse de Trump, Pence apareceu em vários programas de TV para defender Flynn e reiterar que não fez menção à questão das penalidades nas conversas com Kislyak.

Mas os jornais The Washington Post The New York Times informaram na sexta-feira passada que os serviços de Inteligência descobriram que Flynn pediu ao embaixador russo para não reagir de forma desproporcional porque o governo Trump poderia rever as sanções quando chegasse à Casa Branca.

Nomeação controversa


No Twitter, Trump criticou nesta terça-feira os "vazamentos ilegais" de seu gabinete de governo. "A verdadeira história aqui é saber por que há tantos vazamentos ilegais em Washington. Por que esses vazamentos estão acontecendo quando eu tenho que tratar da Coreia do Norte?", escreveu o presidente.

Flynn foi um dos primeiros assessores de Trump em sua campanha presidencial, mas sua nomeação como conselheiro de Segurança Nacional não obteve apoio unânime dentro da Casa Branca. Vários setores dos serviços de Inteligência advertiram que não era o melhor indicado para o cargo. Alguns, inclusive, afirmaram que deixou a direção da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, nas siglas em inglês) por má gestão.

As conversas privadas com o diplomata russo aconteceram quando o governo de Barack Obama preparava um novo pacote de sanções contra Moscou, em represália pela suposta interferência na campanha presidencial para favorecer Trump. As agências de inteligência americanas já concluíram que o próprio presidente russo, Vladimir Putin, interferiu nas eleições.

A administração Obama anunciou sanções em 29 de dezembro contra quatro cidadãos russos e cinco empresas. Também expulsou 35 diplomatas.

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