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Desnutrição: 1,4 milhão de crianças enfrentam risco de morte iminente

Unicef alerta que 1,4 milhão de menores enfrentam risco iminente ante grave desnutrição na Nigéria, na Somália, no Sudão do Sul e no Iêmen. Conflitos, miséria e seca potencializam tragédia


Enquanto você lê este texto, cerca de 1,4 milhão de crianças enfrentam o risco de morte iminente, vítimas de grave desnutrição ; produto da fome que assola Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Iêmen. O alerta foi feito ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que cobrou celeridade da comunidade internacional para evitar a consumação da tragédia. ;O tempo está se esgotando para mais de 1 milhão de crianças. Nós ainda podemos salvar muitas vidas. A desnutrição severa e a fome iminente são produzidas pelo homem. Nossa humanidade demanda uma ação mais rápida. Nós não devemos repetir a tragédia da fome que atingiu o ;Chifre da África; em 2011;, afirmou Anthony Lake, diretor executivo do Unicef.

Especialista em comunicação de crise para oeste e centro da África, Patrick Rose acaba de retornar do nordeste da Nigéria, onde ficou por mais de um mês. Por telefone, do Senegal, ele disse ao Correio que a situação na Nigéria é ;extremamente grave; e ;chocante;. ;O Boko Haram (um grupo terrorista islâmico) expulsou os moradores de cidades e vilarejos em direção a campos de deslocados internos. As pessoas perderam a habilidade de cultivar, de vender alimentos e de ter uma agricultura de subsistência;, explicou. Segundo Patrick, uma seca de longa duração agravou a crise alimentar. ;Quando você começa a conversar com habitantes da cidade de Maiduguri, em dois minutos, eles começam a indicar, como em uma linguagem universal: ;Por favor, me deem comida, estou com fome;. E socam o próprio abdome;, relatou.

Somália

Até o fim do ano, o Unicef estima que a desnutrição severa afete 450 mil crianças nigerianas nos estados de Adamawa, Borno e Yobi. ;O Fews Net, sistema de alerta que monitora a insegurança alimentar, afirmou no ano passado que a fome ocorreu em áreas inacessíveis de Borno. A situação continua e prosseguirá em outras áreas que permanecem além do alcance humano;, declarou ao Correio a tunisiana Najwa Mekki, porta-voz do Unicef em Nova York. Ela acrescenta que, na Somália, a estiagem ameaça uma população fragilizada por décadas de conflitos. Cerca de metade dos somalis, ou 6,2 milhões de pessoas, estão enfrentando insegurança alimentar aguda e precisam de assistência humanitária. Pelo menos 185 mil crianças devem sofrer de grave desnutrição neste ano, ainda que este número possa chegar a 270 mil nos próximos meses.

No Sudão do Sul, a guerra, a miséria e a insegurança contribuíram para que 270 mil crianças desenvolvessem a desnutrição severa. Partes do estado de Unity, no centro-norte do país, foram oficialmente declaradas pelas autoridades de ;áreas da fome;. Até 5,5 milhões de pessoas devem ficar sem alimentos até julho, se nada for feito pela comunidade internacional. No Iêmen, por sua vez, o conflito que se arrasta há dois anos deixou 462 mil crianças desnutridas ; um aumento de 200% desde 2014. ;Esses desastres são produzidos pelo homem. A fome não ocorre da noite para o dia. Ela pode ser evitada, se agirmos rapidamente;, lembrou Mekki. Patrick Rose acredita que o mundo pode reverter esse quadro. ;O mundo é repleto de pessoas generosas e gentis. As organizações internacionais podem dispender os esforços para ajudar as crianças.;

Mekki afirma que, na maioria desses países, ;é urgentemente necessário o acesso humanitário incondicional e sustentável a todos aqueles que enfrentam a fome ou o risco de fome;. ;A ajuda humanitária fornecida auxiliou a prevenir a fome e a salvar vidas no condado Mayendit, no Sudão do Sul, e em algumas partes do estado de Borno, na Nigéria. Nós temos a habilidade e sabemos como continuar esse trabalho de salvar vidas, se tivemos acesso irrestrito e imediato às crianças que precisam de nossa ajuda;, atesta a tunisiana. O Unicef tem trabalhado com parceiros para levar tratamento médico a 220 mil crianças gravemente desnutridas na Nigéria, 400 mil no Sudão do Sul e na Somália e 320 mil no Iêmen.