Agência France-Presse
postado em 14/03/2017 09:05
O Paquistão inicia nesta quarta-feira, com dez anos de atraso, seu primeiro censo da população em quase vinte anos, de grande importância em termos de divisão de poder político e fundos públicos.
Considerado pela ONU como o sexto país mais populoso do mundo, com 200 milhões de habitantes, o Paquistão não faz um censo desde 1998, descumprindo a Constituição, que prevê um censo a cada dez anos.
Os resultados terão importantes consequências nos indicadores econômicos e sociais, que atualmente são calculados em função de 134,7 milhões de habitantes, a população registrada pelo último censo, realizado há 19 anos.
A um ano das eleições legislativas, as principais consequências do censo serão políticas. As mudanças demográficas vão alterar os distritos eleitorais, a divisão de cadeiras entre as províncias e a distribuição de fundos atribuídos pelo orçamento federal.
"Todos têm medo do censo porque determina o poder político", explica Muddassir Rizvi, da ONG Rede para Eleições Livres e Justas (Fafen).
O censo poderá representar a perda de várias cadeiras da província de Punjab, reduto do partido no poder, e cuja população aumenta menos que em outras regiões.
Segundo o último censo, Punjab concentra 46% da população e por isso tem a maioria das cadeiras no parlamento e fica com a maior parte dos fundos federais.
A luz verde para a realização do censo foi dada há três meses, mas o prazo é muito curto para formar milhares de funcionários e informar a população, segundo o Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA).
Alguns estão preocupados com o peso de dois milhões de refugiados afegãos no país, que serão difíceis de diferenciar do cidadão paquistanês devido às irregularidades na concessão de documentos de identidade.
O partido que governa Karachi, a maior cidade do Paquistão, pediu que o censo fosse adiado até a partida dos refugiados.
O censo permitirá medir o peso das minorias marginalizadas, como os hindus e os cristãos, que afirmam superar as atuais estimativas em dois ou três milhões.
Metade dos distritos receberão os recenseadores entre 15 de março e 15 de abril e a outra entre 25 de abril el 25 de maio.
Os primeiros resultados serão conhecidos em julho.
O Escritório de Estatísticas (PBS) trabalhará com 119.000 civis e o exército ajudará com 200.000 homens, tanto na segurança como na realização da pesquisa.
Terceiro sexo
Pela primeira vez, os transsexuais serão computados à parte, como reclamam os representantes desta comunidade historicamente reconhecida, mas geralmente perseguida no Paquistão.
Os formulários foram impressos muito antes das decisões judiciais, mas foi informado aos recenseadores que haverá três opções na categoria gênero: 1 para para os homens, 2 para as mulheres e 3 para os que se declararem transsexuais.
Outro critério essencial para avaliar o peso político das múltiplas etnias que compõem o Paquistão é a língua, mas apenas nove idiomas estarão na lista. Os especialistas consideram que o país conta com 70 línguas.
Em especial, serão recenseados o urdú ; idioma nacional -, o pashtum - comum entre os habitantes do oeste e os afegãos -, e as duas línguas faladas pelos baluques, que reclama a autonomia de sua província.
O censo também é uma oportunidade de se ter uma ideia precisa do peso das minorias, em especial as cristãs e hindus, cujas estimativas são aproximadas e questionadas: entre dois e mais de dez milhões para os cristãos e entre 2,5 e 4,5 milhões para os hindus.
Um dos itens do questionário diz respeito ao tipo de sanitário que existe na casa, já que a ONU calcula que no Paquistão cerca de 40% da população defeca ao ar livre, com os consequentes problemas para a saúde, especialmente das crianças.