Agência France-Presse
postado em 14/03/2017 10:46
A comparação com Donald Trump é fácil porque ambos têm o cabelo claro e despenteado, são viciados no Twitter e possuem uma violenta retórica contra o Islã, embora também haja grandes diferenças entre o presidente americano e o deputado holandês Geert Wilders, que, nesta quarta-feira, pode revolucionar seu país nas urnas.
Geert Wilders, que está no Parlamento há quase 20 anos, é a pedra no sapato do que ele mesmo chama de "elite política".
O Partido Pela Liberdade (PVV), criado por Wilders, pode se tornar após as eleições legislativas de quarta-feira o maior do país. O segundo lugar seria seu maior sucesso desde sua fundação em 2006.
Como a maioria dos demais partidos afirma não vai colaborar com ele, provavelmente não integrará o governo. Mas será uma voz importante da oposição, em uma boa posição para pressionar e mudar a agenda política.
O deputado, de 53 anos, se considera em uma cruzada contra a "islamização" do país e compara o Corão ao livro "Mein Kampf", de Adolf Hitler.
"Não digo que todos os muçulmanos são ruins ou terroristas, seria ridículo", afirmou recentemente à AFP.
"Mas acredito que em todos os países onde o Islã é a religião dominante, se pode observar uma falta de liberdade, de democracia, de Estado de direito...".
Fascinado pela política
No programa de seu partido, que cabe em uma folha, ele promete proibir o acesso ao país aos imigrantes muçulmanos e fechar as mesquitas.
Suas declarações virulentas provocaram fama internacional. Ele passou a integrar a lista negra da Al-Qaeda. Vive sob permanente proteção policial.
Adorado e detestado, o extremista de direita divide um país que tem orgulho de uma longa tradição de tolerância multicultural.
Nascido em 1963 em Venlo, sudeste da Holanda, Wilders cresceu em uma família católica, ao lado do irmão e de duas irmãs.
O interesse por política teve início nos anos 1980, afirmou seu irmão Paul à revista alemã Der Spiegel.
"Era fascinado pelo jogo político, as lutas pelo poder e a influência", disse a respeito do irmão, mestre na arte de utilizar os meios de comunicação, os quais acusa de parcialidade.
Sua aversão pelo Islã surgiu aos poucos. Em Israel, onde morou por um ano, foi testemunha das tensões com os palestinos. Em 2002 foi tomado pela comoção com o assassinato do populista Pim Fortuyn, de quem é herdeiro político direto, e dois anos mais tarde ficou chocado com a morte do cineata anti-islã Theo van Gogh.
"Recordo que minhas pernas tremiam, em estado de choque", descreveu em um livro em 2012.
"Posso dizer honestamente que senti revolta, não medo".
Discriminação
Ao longo dos anos, Wilders endureceu o tom das palavras. O candidato prometeu não permanecer calado, apesar de uma condenação por discriminação no ano passado depois que prometeu "menos marroquinos" na Holanda.
O julgamento aumentou sua visibilidade, poucos meses depois do Brexit e da vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos.
Desde que o PVV abandonou o governo em 2012, por razões estratégicas, Geert Wilders está na oposição ao primeiro-ministro Mark Rutte, que prometeu nunca mais colaborar com ele.
Para alguns, Geert Wilders é uma figura isolada. Casado com uma cidadã húngara e sem filhos, seu partido é oficialmente uma associação com um único membro: ele mesmo. E sua segurança limita seus contatos com o mundo exterior.
"Seu mundo se tornou muito pequeno", disse o irmão.
"Parlamento, eventos públicos e seu apartamento. Não pode ir a nenhum outro lugar", completou.