Agência France-Presse
postado em 15/03/2017 14:05
Os holandeses se mobilizaram nesta quarta-feira (15/3) para a definição de um novo Parlamento, em eleições que medem a ascensão do populismo na Europa após um fim de campanha agitado pela crise diplomática com a Turquia.
Cerca de um terço dos 12,9 milhões de eleitores compareceram às urnas pouco antes das 14h00 (10h00 de Brasília), segundo o instituto de pesquisas Ipsos. Nas últimas eleições de 2012 a taxa de participação nesta mesma hora era de 27%.
Os locais de votação fecharão às 20H00 GMT (17H00 de Brasília), quando serão divulgadas as pesquisas de boca de urna.
De acordo com as últimas pesquisas, o Partido Popular pela Liberdade e a Democracia (VVD) do primeiro-ministro Mark Rutte obteria entre 24 e 28 cadeiras no Parlamento, enquanto o Partido pela Liberdade (PVV) do extremista de direita Geert Wilders deve garantir entre 19 e 22 deputados.
Depois do Brexit no Reino Unido e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, as eleições holandesas são consideradas um indício do que pode acontecer nas presidenciais da França, em abril e maio, e nas legislativas da Alemanha, no fim do ano.
A campanha esteve dominada pelo confronto entre Mark Rutte e Geert Wilders.
Wilders votou em uma escola dos arredores de Haia, diante de muitos jornalistas. "Seja qual for o resultado das eleições hoje, o gênio não voltará a sua lâmpada e esta revolução patriótica seguirá", afirmou.
"Acredito que os acontecimentos nos Estados Unidos e talvez em outros países europeus demonstram que as pessoas normais querem ser novamente soberanas em seus países", acrescentou.
Do outro lado da cidade, Rutte também votou e falou brevemente com estudantes que, gritando seu nome, prometiam "votar um dia por você".
"Esta eleição é crucial para a Holanda", declarou à imprensa. "É a oportunidade para uma democracia como a nossa de colocar fim ao efeito dominó do mau populismo".
"Vão se surpreender, mas algumas pessoas votam no PVV", explicou um eleitor de origem surinamesa à AFP. "Não suportam Geert Wilders, mas estão fartos da criminalidade, sobretudo dos jovens", explicou.
- Crise com a Turquia -
Rutte aspira um terceiro mandato como primeiro-ministro da Holanda, uma das maiores economias da Eurozona e membro fundador da União Europeia, onde vivem 17 milhões de pessoas.
As últimas pesquisas mostraram um avanço dos partidos Chamada Democrata Cristã (CDA) e Democratas 66 (D66).
Durante a campanha, Wilders prometeu fechar as fronteiras aos imigrantes muçulmanos, proibir a venta do Corão e acabar com as mesquitas.
Rutte se concentrou em destacar as conquistas econômicas e a estabilidade do país em seus seis anos como primeiro-ministro. Sua posição durante a crise diplomática com a Turquia parece ter fortalecido sua imagem.
Rutte permaneceu firme diante das ameaças do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, depois que o governo proibiu que dois ministros da Turquia fizessem campanha em Roterdã entre a comunidade turca a favor do referendo de abril que reforça os poderes presidenciais.
Mesmo no caso de o PVV ser o partido mais votado, Wilders teria poucas possibilidades de entrar no governo porque a maioria dos partidos descartou uma negociação com ele.
Apesar da postura radical de Wilders ter recebido apoio após a crise dos refugiados, para muitos holandeses suas ideias contrárias à imigração continuam sendo difíceis de aceitar.
Se Wilders conseguir incluir seu partido como um dos principais no cenário político, no entanto, será difícil de ignorá-lo.
- Fragmentação -
Os holandeses têm orgulho do consenso político e em geral os partidos levam três meses para estabelecer a coalizão de governo, em um cenário político fragmentado.
Desta vez, analistas acreditam que serão necessários quatro ou até cinco partidos para alcançar a maioria de 75 cadeiras no Parlamento.
Lodewijk Asscher, líder do Partido Trabalhista, que integra a coalizão de governo, criticou duramente Wilders no último debate ao afirmar que ele "apresenta zero solução".
O partido de esquerda e ecologista GroenLink deve obter entre 16 e 18 cadeiras, o que o deixaria como peça importante do futuro governo.