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Um buda salvo de desastres chega ao Museu Nacional do Afeganistão

Estátua do buda meditando, de aproximadamente um metro de altura, ficou escondida sob a terra do século III ao V, segundo arqueólogos e restauradores

Agência France-Presse
postado em 16/03/2017 14:52
Resistiu ao tempo, ao clima, aos saqueadores e à guerra. Um espetacular buda de uma das zonas mais perigosas do Afeganistão entrará - completamente restaurado - no Museu Nacional do país.

A estátua do buda meditando, de aproximadamente um metro de altura, ficou escondida sob a terra do século III ao V, segundo arqueólogos e restauradores.

Está sentado sobre um pano drapeado púrpura, com as mãos em oferenda, estendidas para o céu. É uma peça excepcional devido ao seu estado de conservação, integridade e brilho das cores.

Foi descoberta em 2012 em Mes Aynak, cerca de 40 km ao sudeste de Cabul, na província de Logar, atualmente invadida por combatentes talibãs.

A exploração neste lugar de uma gigantesca mina de cobre por um consórcio chinês revelou uma imensa cidade fortificada e seus seis monastérios, em uma extensão de quase quatro quilômetros.

"A estátua estava quase completa quando a descobriram, com a cabeça, algo incomum, no centro de um nicho decorado com flores pintadas, no coração de um centro de oração", conta Ermano Carbonara, um dos restauradores italianos enviados pela Unesco à Dafa, a delegação arqueológica francesa no Afeganistão.

"Era melhor retirá-la do local para protegê-la", afirma.

A argila usada na escultura veio do rio de Mes Aynak, e é muito sensível à umidade. "Em uma noite chuvosa, poderíamos perdê-la", explica, e descreve os traços do rosto, os cachos negros do coque, o tom rosado das bochechas e a íris azul dos olhos em lápis-lazúli que atestam, segundo ele, "uma técnica realmente sofisticada".

Budas sem cabeça

A cabeça do buda (a parte mais rentável em uma venda) estava no solo, não se sabe se por um desafortunado golpe de pá durante as escavações ou por uma tentativa de roubo, neste país imerso na anarquia e na guerra há quatro décadas.

"Encontramos um monte de estátuas sem cabeça, se a tivéssemos abandonado não ficaria ali por muito tempo", aponta Julio Bendezu, diretor da Dafa.

Em Cabul, os restauradores italianos, franceses e afegãos uniram a cabeça à estátua, limparam as partes coloridas e recolocaram no nicho a representação de uma das pequenas figuras que a acompanham, monges ou doadores. A outra está no Museu e voltará ao seu lugar original.

"Era comum que os doadores que financiavam a construção da estátua e seu santuário quisessem ser representados ao seu lado", explica Bendezu.

A restauração permitiu estudar melhor a estrutura interna de palha e madeira do buda, cujo traje trai a influência grega deixada por Alexandre, o Grande na região.

Esta semana a estátua saiu do ateliê da Dafa sob escolta militar, rumo ao museu.

Em breve será possível admirá-la neste estabelecimento, que aspira a um renascimento após ter sido saqueado e devastado por combatentes de todos os lados.

"Transmitirá uma mensagem para as pessoas deste país, é a prova da nossa história, da nossa identidade nacional", comemora Rohulá Ahmadzai, diretor interino de Arqueologia do Afeganistão.

"Temos sorte de contar com peças como esta. Uma vez no museu, estará em segurança", acrescenta.

Há uma sala no museu dedicada aos tesouros encontrados nas escavações de Mes Aynack.

São testemunhas do passado pré-islâmico do Afeganistão, que os islamistas tentaram apagar, como fizeram os talibãs, quando destruíram os grandes budas de Bamiyan (centro do Afeganistão), e o grupo Estado Islâmico, que explodiu os tesouros de Palmira, na Síria.

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