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Orçamento de Trump enxuga custos, mas eleva recursos para guerra

A primeira proposta orçamentária de Donald Trump enxuga custos, mas eleva os recursos para a Defesa e a Segurança Interna. Oposição e ativistas criticam o corte de verbas para a área social e a cooperação externa

Gabriela Freire Valente
postado em 17/03/2017 06:00

O presidente fala durante recepção para uma delegação da Irlanda: corte das despesas federais penaliza diplomacia, educação e meio ambiente, mas premia as Forças Armadas


Com uma série de cortes em recursos destinados à cooperação internacional, às artes e até à agência federal que conduz as políticas ambientais, Donald Trump enviou ontem ao Congresso sua proposta para o orçamento do Executivo no ano fiscal 2017-2018. Primeiro documento do tipo emitido pelo presidente, após quase dois meses na Casa Branca, o texto dá linhas mais concretas aos planos de sua plataforma de gestão. Embora caiba ao Legislativo analisar e votar a proposta, Trump expressou a disposição de enxugar as despesas do Estado em diversos setores, mas ampliou as verbas para os departamentos de Defesa e de Segurança Nacional. A proposta destina US$ 2,6 bilhões para o projeto de construir um muro ao longo de toda a fronteira com o México.


Embora o objetivo do republicano seja promover uma redução drástica nos gastos federais, o plano reflete a intenção do presidente de enxugar a estrutura governamental e priorizar os serviços de segurança. Trump propõe um aumento de 10% para as dotações bilionárias do aparato militar, elevando para US$ 639 bilhões os recursos das Forças Armadas.

Um aumento de quase 7% foi previsto para o departamento que cuida da segurança doméstica dos EUA. A pasta está diretamente envolvida na construção do muro na fronteira com o México. Além dos recursos destinados ao planejamento e a execução da obra, US$ 314 milhões seriam destinados à contratação e ao treinamento de 500 agentes de fronteira e 1.000 agentes migratórios. Outros US$ 1,5 bilhão adicionais seriam investidos para ampliar a capacidade de detenção, transporte e remoção de ;imigrantes ilegais;.

Acréscimos para o Departamento de Assuntos de Veteranos e para a Administração de Segurança Social também são previstos na proposta. Em contrapartida, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) perde 31,4% dos recursos ; o corte mais pronunciado, em números relativos, entre as diversas áreas da administração. Os departamentos de Estado, de Emprego e de Agricultura sofrem reduções de mais de 20% cada um. Pastas como Saúde, Comércio, Habitação, Transporte, Energia e Justiça também estão incluídas na contenção orçamentária.

Ainda que a definição caiba ao Congresso, porta-vozes da oposição protestaram contra o aperto de cintos em setores que afetam diretamente os cidadãos. ;Esse orçamento devastaria a inovação que move a nossa economia, as pesquisas que curam as nossas doenças e a educação que empodera as nossas crianças;, apontou Nancy Pelosi, líder da minoria democrata na Câmara dos Deputados. ;O orçamento é uma declaração dos nossos valores, e o presidente Trump mostrou que não valoriza o futuro das nossas crianças e das famílias trabalhadoras.;

Alerta
Diante dos cortes previstos para o Departamento de Estado, especialmente no repasse de fundos para programas de ajuda internacional ao desenvolvimento das Nações Unidas, o gabinete do secretário-geral da organização, António Guterres, reagiu com preocupação. ;A brusca redução das finanças pode nos obrigar a adotar medidas que prejudicarão, no longo prazo, as tentativas de reforma (da ONU);, afirmou o porta-voz Stéphane Dujarric.

Membros da comunidade científica e ativistas ambientais também manifestaram oposição à proposta do presidente. ;Dinheiro fala, e a proposta de Trump grita que a única coisa que importa são os lucros das corporações poluidoras e dos bilionários de Wall Street;, acusou o diretor da organização ecológica Sierra Club.

Nos últimos anos, a aprovação do orçamento federal foi um palco central da guerra entre democratas e republicanos no Congresso. David Wessel, economista da Brookings Institution, observa que a proposta da Casa Branca deve agradar aos defensores do Estado mínimo, mas pode trazer efeitos colaterais, caso seja aprovada. ;Muitos norte-americanos apoiam menos gastos governamentais, mas fazem objeções quando são cortados serviços específicos em que eles confiam;, pondera.

Wessel explica que, mesmo com os cortes, a dívida pública americana deve chegar a níveis históricos, por causa do envelhecimento da população e dos gastos do governo com serviços de saúde. A proposta republicana para revogar o atual sistema de subsídio aos seguros médicos enfrenta resistência de parcela significativa da população.

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