Agência France-Presse
postado em 21/03/2017 08:36
Martin McGuinness, que passou de comandante do IRA na Irlanda do Norte a um dos líderes do processo de paz na província britânica, faleceu aos 66 anos, anunciou nesta terça-feira o partido Sinn Fein.
"Com grande pesar e imensa tristeza, tomamos conhecimento da morte de nosso amigo e camarada Martin McGuinness, que faleceu em Derry durante a noite. Aqueles que o conheceram sentirão muita falta", afirma o Sinn Fein em seu site.
De acordo com a imprensa, o político morreu em consequência de uma doença cardíaca que o havia afastado da política nos últimos meses.
Ao lado de Gerry Adams, McGuinness foi a face visível dos republicanos no processo que resultou nos acordos de paz da Sexta-Feira Santa de 1998, que encerraram um conflito de três décadas entre católicos leais a Dublin e protestantes leais a Londres que deixou mais de 3.500 mortos.
Muitas reações a sua morte destacam sua conversão ao processo de paz, que o levou a conviver com antigos inimigos, como a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, com quem se reuniu pelo menos duas vezes, e o reverendo unionista Ian Paisley, que foi seu primeiro chefe de Governo.
"Embora eu nunca possa perdoar o caminho que ele tomou na primeira parte de sua vida, Martin McGuinness terminou desempenhando um papel determinante ao liderar o movimento republicano em seu afastamento da violência", afirmou a primeira-ministra britânica Theresa May em um comunicado.
"Para aqueles de nós que finalmente conseguimos levar o acordo de paz para a Irlanda do Norte, nós sabemos que não conseguiríamos ter feito isto sem a liderança, coragem e persistência de Martin, de que o passado não deve definir o futuro", afirmou Tony Blair, primeiro-ministro em 1998.
"Um homem corajoso"
Colin Parry, que perdeu o filho de 12 anos em um atentado do IRA na cidade inglesa de Warrington, em 1993, disse que nunca poderá perdoar a organização armada, mas elogiou o "anseio de paz" de McGuinness.
"Foi um homem corajoso, que assumiu riscos ante a linha dura do movimento republicano", disse Parry, de acordo com o jornal The Guardian.
"O que importa não é como você começa a sua vida, e sim como acaba", declarou à BBC Ian Paisley, filho do reverendo unionista e também político.
McGuinness era o número dois do IRA em Derry, sua cidade natal, em um dos episódios mais amargos do conflito, o "Domingo Sangrento", o dia 30 de janeiro de 1972, quando 13 manifestantes morreram em uma ação do exército britânico.
Ex-vice-primeiro-ministro da província entre 2007 e 2017, McGuinness renunciou em protesto contra as suspeitas de corrupção que pesavam sobre a chefe de Governo, Arlene Foster, do Partido Democrático Unionista (DUP), o que provocou novas eleições regionais.
Pelos acordos de paz, o maior partido de cada comunidade, neste caso o DUP e o Sinn Fein, eram obrigados a governar em coalizão.
"Era um republicano apaixonado que trabalhou sem descanso pela paz e a reconciliação e pela reunificação de seu país. Mas, acima de tudo, amava sua família e as pessoas de Derry, da qual tinha muito orgulho", disse o líder histórico do Sinn Fein, Gerry Adams.