Agência France-Presse
postado em 21/03/2017 08:58
Combates violentos eram travados nesta terça-feira na zona leste de Damasco, após um novo ataque rebelde contra as forças do regime, dois dias antes de uma nova rodada de negociações em Genebra sobre o conflito na Síria.
Facções rebeldes e a Frente Fateh al-Sham, ex-braço sírio da Al-Qaeda, iniciaram um ataque ao amanhecer a partir do bairro de Qabun (nordeste da capital) e os combates se concentravam a 10 km do centro da cidade.
A força aérea do regime bombardeava as posições rebeldes, enquanto foguetes atingiam os bairros dos Abássidas e de Tijara, próximos a Jobar, todos na zona leste da capital síria.
Damasco, principal reduto do regime do presidente Bashar al-Assad, permanece relativamente à margem da devastação provocada pela guerra na Síria, iniciada em março de 2011 e que deixou mais 320.000 mortos, além de milhões de deslocados.
No domingo, jihadistas e rebeldes executaram um primeiro ataque e atingiram o ponto mais próximo ao centro da cidade em dois anos. Mas o ataque foi rejeitado pelas tropas do regime com intensos bombardeios aéreos.
"O exército enfrenta tentativas de infiltração de grupos terroristas, mas conseguiu cercá-los", anunciou a agência estatal de notícias SANA.
Um correspondente da AFP ouviu uma forte explosão às 5H30 (0H00 de Brasília) e a partir deste momento os bombardeios não deram trégua.
Os combates e bombardeios se tornaram mais intensos durante a manhã.
"As portas e as janelas tremiam a cada bombardeio", disse à AFP um homem identificado apenas como Lamis, de 28 anos, que mora a poucos quilômetros do cenário dos confrontos.
"Tenho medo de que os homens armados (rebeldes) avancem mais. Espero que termine rapidamente", afirmou.
"Aconteceu uma grande explosão ao amanhecer, provavelmente provocada por um carro-bomba dos rebeldes contra uma posição do regime entre os bairros de Jobar e Qabun", disse à AFP Rami Abdel Rahman, diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Após a explosão foram registrados bombardeios e combates violentos", completou.
Em Damasco os rebeldes e jihadistas estão presentes apenas no bairro de Qabun - que controlam em grande parte - e em Jobar, do qual controlam metade.
Os combates de domingo e segunda-feira deixaram 72 mortos (38 soldados e 34 insurgentes, de acordo com o OSDH.
Os confrontos acontecem dois dias antes do início de uma nova rodada de negociações sobre a Síria em Genebra, com mediação da ONU.
O enviado especial para a Síria, Staffan de Mistura, "destaca que todos os convidados que compareceram à rodada anterior em fevereiro confirmaram participação", disse a porta-voz da ONU, Alessandra Vellucci.
Quatro rodadas de negociações já foram organizadas em Genebra com a mediação da ONU desde o início de 2016.
"Os últimos ataques terroristas em Damasco e em outras partes da Síria pretendem pressionar o governo sírio antes de Genebra", declarou na segunda-feira Bashar al-Jaafari, coordenador da delegação do regime.
O regime sírio, apoiado pela Rússia, chega ao encontro em posição de força, no entanto, após obter várias vitórias desde 2015 ante os rebeldes.
Todos os esforços diplomáticos, organizados pela ONU ou por vários países, para solucionar o conflito sírio fracassaram até o momento.