Agência France-Presse
postado em 21/03/2017 16:58
O partido no poder na Turquia desistiu de organizar comícios eleitorais favoráveis %u200B%u200Bao presidente Recep Tayyip Erdogan em território alemão antes do referendo de 16 de abril, encerrando temporariamente duas semanas de uma crise entre os dois países.[SAIBAMAIS]"Todas as manifestações previstas foram canceladas", declarou um porta-voz da "célula de coordenação" da campanha no exterior do AKP, o partido do presidente turco.
A decisão foi tomada "em Ancara", indicou esta representação do AKP com sede em Colônia, no oeste da Alemanha, um país onde vivem 3 milhões de turcos, a maior diáspora turca no mundo, dos quais 1,4 milhão estão matriculados nas listas eleitorais.
A União dos Democratas Turcos Europeus (UETD), uma organização pró-Erdogan da diáspora turca, anunciou por sua vez à revista alemã Wirtschaftswoche que não irá organizar "qualquer nova manifestação" na Alemanha com a participação de ministros turcos até 16 de abril.
No entanto, "reuniões para informar" continuam como previstas "a nível local", sem representação do Governo turco, ressaltou o presidente da UETD, Zafer Sirakaya.
Esta decisão, após várias semanas de disputa entre a Turquia e vários países europeus, ocorre um dia após a ameaça da chanceler alemã, Angela Merkel, de proibir qualquer ato político de autoridades turcas no território alemão.
Merkel reagiu assim aos novos ataques de Erdogan no domingo, acusando-a de utilizar "práticas nazistas".
"Nós não vamos tolerar que o fim sempre justifica os meios e que todos os tabus de falar sem respeito pelo sofrimento daqueles que foram perseguidos e mortos pelos nazistas", disse o líder. Este foi "absurda e chocantes" ataques, disse na terça-feira o vice-chanceler e ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, que disse que "além dos limites".
"As comparações com o nazismo devem parar", insistiu, "nós não vamos tolerar que o fim sempre justifique os meios e que todos os tabus caiam sem respeito pelo sofrimento daqueles que foram perseguidos e assassinados durante o nacional-socialismo", declarou a chanceler.
Crise
A Turquia já havia acusado, no início de março, a Alemanha de usar práticas "nazistas", depois que vários municípios cancelaram comícios. Declarações rechaçadas por Berlim, Bruxelas e Paris.
As relações entre Turquia e Alemanha atravessam uma grave crise desde que autoridades locais alemães proibiram vários atos eleitorais a favor de Erdogan no país.
Berlim não anunciou qualquer penalidade imediata e parece querer evitar uma escalada que beneficiaria sobretudo Recep Tayyip Erdogan em seu desejo de mobilizar o eleitorado para o referendo de 16 de abril sobre o reforço dos seus poderes como chefe de Estado.
Por sua vez, como forma de resposta à Europa "anti-turca e anti-islâmica", Erdogan pediu nesta terça-feira aos seus cidadãos para votar "sim" no referendo, cujo resultado deve ser apertado.
"Peço-lhes que deem ma resposta àqueles que estão nos assistindo na televisão a partir do exterior, os nossos cidadãos, a Europa e todo o mundo podem nos ouvir", disse ele durante um comício em Ancara.
Após acolher mais de um milhão de migrantes em 2015 e 2016, a Alemanha de Angela Merkel ainda precisa da ajuda da Turquia para diminuir o fluxo de refugiados para a Europa, no quadro de um pacto UE-Turquia.
Além disso, Berlim mantém caças na base turca de Incirlik (sul) como parte da luta da coalizão internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Em todo caso, esta crise terá um impacto duradouro sobre as chances de adesão da Turquia à UE.