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Testemunhas de atentado em Londres relatam momentos de horror ao Correio

Terrorista atropela, mata três pedestres e fere 40 sobre a Ponte de Westminster. Depois, desce do carro com uma faca e assassina policial antes de ser morto a tiros. Polícia suspeita de extremismo islâmico


O terror voltava a golpear o coração da capital britânica. O ataque deixou cinco mortos, incluindo o extremista, e 40 feridos, alguns dos quais em estado crítico. Entre as vítimas, estão três estudantes franceses. O parlamentar Tobias Ellwood foi considerado um herói, ao correr em direção a Palmer e fazer massagem cardíaca. Médicos descreveram os ferimentos como ;catastróficos;.

O neurocirurgião carioca Renato Lincoln Corrêa Patrício, 52, caminhava com a mulher, Conceição Viguera Patrício, pela Parliament St., em direção ao prédio do parlamento, onde pretendiam tirar fotos. ;Quando estávamos perto da esquina, escutamos três tiros intercalados. Andamos mais um pouco e observamos que, atrás do parlamento, havia um carro batido na parede. Do lado do carro, tinha uma pessoa caída no chão, mas não vi sangue;, relatou ao Correio, por telefone.

De acordo com ele, a polícia chegou ao local rapidamente e isolou a área, obrigando-os a se afastar. ;Fomos empurrados até o prédio da Suprema Corte. Depois de toda a movimentação dos policiais, imaginei que se tratava de um atentado. As pessoas estavam atordoadas e não entendiam o que ocorria;, acrescentou o médico, que chegou a Londres anteontem, depois de uma estada de quatro dias em Paris.

O londrino Matt Haikin, 44, pedalava por Westminster no momento do atentado. ;Eu vi o carro colidindo e ouvi os tiros. Até então, pensei que tivesse sido uma batida. Estranhamente, eu me senti mais curioso do que qualquer coisa. Somente mais tarde comecei a ficar com medo;, disse à reportagem. O mais surpreendente, de acordo com ele, foi a falta de pânico no momento. ;Havia curiosidade, não havia tantos gritos. Muito estranho!”

;Doentio;

Até o fechamento desta edição, nenhum grupo tinha reivindicado a autoria do atentado, que ocorre em um momento sensível para o Reino Unido ; em seis dias, a primeira-ministra britânica, Theresa May, deve oficializar a saída da União Europeia. A mídia londrina chegou a apontar o pregador islâmico Abu Izadeen, 41 anos, como autor, mas voltou atrás, ante a informação de que ele estaria preso. ;Não vou fazer comentários sobre a identidade do agressor (;), mas privilegiamos a pista do terrorismo islâmico. Assumimos que é um terrorista islâmico;, admitiu Mark Rowley, comandante da unidade antiterrorista da Polícia Metropolitana de Londres.

Simpatizantes do Estado Islâmico comemoraram o ataque nas redes sociais e afirmaram que o ;Reino Unido está pagando sangue com sangue;. May reuniu o gabinete de crise e descartou elevar o nível de ameaça terrorista, atualmente na escala de ;severo;, o segundo mais alto. ;O local desse ataque não foi acidental. O terrorista escolheu atacar o coração de nossa capital, onde pessoas de todas as nacionalidades, religiões e culturas se unem para celebrar os valores da liberdade, da democracia e da liberdade de expressão;, afirmou a chefe de governo, ao classificar o atentado de ;doentio; e ;depravado;.

A premiê enviou um recado ao extremismo islâmico. ;Deixem-me ser bem clara hoje. Qualquer tentativa de derrotar esses valores, por meio da violência, está condenada ao fracasso. Amanhã de manhã, o parlamento vai se reunir, como de praxe. Os londrinos vão se levantar e enfrentar o seu dia, como de praxe. Eles caminharão pelas ruas, viverão suas vidas, jamais se rendendo ao terror e nunca permitindo que as vozes do ódio e do mal nos separem.; O prefeito de Londres, o muçulmano Sadiq Khan, fez o mesmo: ;A mensagem àqueles que querem nos prejudicar e destruir nosso modo de vida é: vocês não terão sucesso, vocês não nos dividirão;.

Ex-agente do serviço secreto francês DSGE, Yves Trotignon disse ao Correio que o incidente em Londres é ;quase certamente um ataque jihadista;. ;Foi uma tentativa real de matar pessoas, do lado de fora e dentro do parlamento, com um modus operandi clássico, visto em Berlim e em Nice;, comentou, ao citar atentados em que foram usados caminhões. O atentado coincide com o reforço de segurança nos aeroportos, depois de EUA e Reino Unido proibirem laptops e tablets nos aviões.