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Dezenas de civis mortos em bombardeios aéreos no oeste de Mossul

A coalizão internacional admitiu neste sábado um ataque contra o local descrito pelas fontes iraquianas

Autoridades iraquianas afirmaram este sábado que dezenas de civis morreram no oeste de Mossul em bombardeios aéreos contra o último grande reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque, em ataques confirmados pela coalizão liderada pelos Estados Unidos.

Os aviões iraquianos e da coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos bombardeiam a segunda maior cidade do Iraque para apoiar as tropas que lutam contra o EI.

A coalizão internacional admitiu neste sábado um ataque contra o local descrito pelas fontes iraquianas.

[SAIBAMAIS]"Uma revisão provisória dos dados (...) indica que, a pedido das forças de segurança iraquianas, a coalizão atacou alguns combatentes e equipamentos do Estado Islâmico (EI) em 17 de março no oeste de Mossul, em um local onde supostamente aconteceram baixas civis", explica o comunicado.

Até o momento não foi possível verificar os números exatos da baixas com uma fonte independente.

"Há dezenas de corpos que continuam sepultados sob os escombros", afirmou à AFP Bashar al-Kiki, presidente do conselho provincial de Nínive, cuja capital é Mossul.

O governador da província, Nawfal Hammadi, mencionou mais de 130 civis mortos.

Edifícios destruídos

As forças iraquianas, apoiadas pela coalizão internacional, iniciaram em 19 de fevereiro uma ofensiva para reconquistar o oeste de Mossul, depois de recuperar o leste da cidade em janeiro.

Desde então, as tropas do país recuperaram vários bairros, mas a parte antiga da cidade permanece sob controle dos rebeldes.

"A organização terrorista Daesh tenta interromper por todos os meios o avanço das forças iraquianas em Mossul. Reagrupa os civis e os utiliza como escudos humanos", declarou Hammadi à AFP, utilizando o acrônimo em árabe para o EI.

Um general iraquiano, que pediu anonimato, afirmou que os bombardeios atingiram mais de 27 edifícios residenciais, dos quais três ficaram completamente destruídos.

Omar Mohanned Sumayr e seu tio Manhal, civis que conseguiram escapar neste sábado da zona de conflito, afirmaram que um imóvel com 170 pessoas foi totalmente destruído, depois de ser bombardeado quando os combatentes do EI atiravam no terraço.

"Atiradores do Daesh subiram e atiraram contra as forças iraquianas. Um avião atacou e disparou um míssil", disse Manhal.

"Nosso edifício fica ao lado do que foi destruído", completou.

A ONU expressou uma "profunda inquietação" e lamentou "as terríveis perdas humanas".

Mais de 200.000 deslocados

Os combates se concentram atualmente na entrada da cidade antiga, um espaço de ruas estreitas com grande população, pouco propício para o avanço dos tanques e onde o uso de armamento pesado pode colocar em perigo milhares de civis retidos pelos jihadistas.

Mais de um mês depois do início da ofensiva contra o oeste de Mossul, mais de 200.000 pessoas fugiram dos combates, segundo o ministério iraquiano de Migrações e Deslocados.

"O número de deslocados procedentes das zonas situadas na margem direita (do rio Tigre, oeste) da cidade de Mossul era de 201.275 pessoas", afirma o ministério em um comunicado.

Mas quase 600.000 pessoas continuam nas zonas ainda controladas pelo EI, que representam quase 60% da população do oeste da cidade. Há principalmente 400.000 pessoas na cidade antiga, de acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Os combatentes do EI assumiram em 2014 o controle de amplas faixas de território ao norte e oeste de Bagdá, mas, desde então, as forças iraquianas expulsaram os extremistas de grande parte destas áreas.

Na quarta-feira, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, prometeu a derrota do EI e a morte de seu líder, Abu Bakr al-Bagdadi, um dia depois de um suposto bombardeio da coalizão internacional que deixou pelo menos 33 civis mortos perto de Raqa, reduto do EI na Síria.