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Ataque com gás tóxico deixa 58 mortos em Khan Shekhun, na Síria

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que não sabe que tipo de gás foi liberado, os civis morreram por asfixia. Dezenas sofriam com problemas respiratórios e outros sintomas

Agência France-Presse
postado em 04/04/2017 12:21
Sobrevivente de ataque com gás tóxico recebe atendimento médico
Beirute, Líbano - Ao menos 58 civis morreram nesta terça-feira em um suposto ataque químico em uma localidade rebelde da Síria, o que provocou a indignação de muitos países, que questionaram as ações do regime de Bashar Al-Assad. O ataque, registrado na cidade de Khan Sheikhun, também deixou cerca de 170 feridos, incluindo crianças que mal conseguiam respirar com máscaras de oxigênio, enquanto convulsões sacudiam seus corpos. Ao menos 11 crianças morreram, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Para esta organização, trata-se do "segundo ataque químico mais mortífero do conflito na Síria", depois do que provocou mais de 1.400 mortes em 2013. Os bombardeios foram realizados no início da manhã contra um bairro de Khan Sheikhun, na província de Idlib, no noroeste da Síria, nas mãos dos rebeldes e extremistas.
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"Ouvimos bombardeios (...) Corremos para dentro das casas e havia famílias mortas em suas casas. Vimos crianças, mulheres e homens mortos nas ruas", contou à AFP uma testemunha, Abu Mustafá. As vítimas "têm as pupilas dilatadas, convulsões, espuma saindo da boca", explicou Hazem Shahwane, um socorrista entrevistado em um dos hospitais da cidade.

Após a divulgação das imagens chocantes das vítimas, a Turquia descreveu o ataque como "desumano", enquanto a União Europeia (UE) afirmou que o regime de Bashar Al-Assad tem a "principal responsabilidade". A oposição síria acusou o regime de ter utilizado "morteiros com gás químico". Este "crime horrível" lembra o ataque do verão de 2013 perto de Damasco, que a comunidade internacional deixou "impune", acrescentou, alertando que "colocava em xeque" o processo de paz destinado a acabar com um conflito que já dura mais de seis anos.

No meio da tarde, o regime não havia reagido oficialmente, mas uma fonte de segurança denunciou "calúnias". "Os homens armados (os insurgentes) tentam conquistar uma (vitória) midiática depois de não terem conquistado (uma vitória) em terra", disse à AFP um alto funcionário, que pediu anonimato.

;Muito preocupada;

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) afirmou estar "muito preocupada com o suposto ataque com armas químicas" e disse "reunir e analisar as informações de todas as fontes disponíveis". A França solicitou nesta terça-feira uma "reunião de emergência do Conselho de Segurança" da ONU após um "novo ataque químico particularmente grave".

[SAIBAMAIS]Já a Comissão de Investigação da ONU sobre Direitos Humanos na Síria, da qual a ex-procuradora internacional Carla del Ponte é membro, anunciou que "investiga atualmente" o ataque desta terça. "Os relatórios que sugerem que se trata de um ataque com armas químicas são extremamente preocupantes. A Comissão investiga atualmente as circunstâncias deste ataque, incluindo as acusações de utilização de armas químicas", indicaram os investigadores.

O OSDH, que possui uma ampla rede de fontes na Síria, não podia confirmar se os bombardeios foram realizados por aviões do exército sírio ou pela Rússia, aliada do regime. Mas o exército russo afirmou que não havia realizado nenhum bombardeio na área atingida. Uma correspondente da AFP viu em um hospital de Khan Sheikhun pacientes com espuma saindo da boca. Muitos foram pulverizadas com água enquanto os médicos tentavam reanimá-los.

Segundo a jornalista, o hospital foi bombardeado posteriormente, provocando grandes danos no centro de saúde e a fuga dos médicos entre os escombros.

Reunião em Bruxelas

O governo sírio, que ratificou a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em 2013, negou em muitas ocasiões o uso de armas químicas, mas as acusações a Damasco por utilizar este tipo armas se sucedem, e uma investigação dirigida pela ONU acusou o regime de ter realizado ao menos três ataques com cloro em 2014 e 2015.

Em outubro de 2016, o Conselho de Segurança da ONU recebeu um relatório confidencial concluindo que o exército sírio havia realizado um ataque químico, sem dúvida com cloro, em Qmenas (província de Idlib) em 16 de março de 2015. No início de março, a OPAQ anunciou que estava investigando oito supostos ataques com gás tóxico cometidos na Síria desde o início do ano.

Após o ataque de 2013, um acordo russo-americano sobre o desmantelamento do arsenal químico sírio descartou in extremis a ameaça de ataques aéreos dos Estados Unidos contra o regime. O ataque desta terça-feira coincide com o início de uma conferência de dois dias em Bruxelas sobre o futuro da Síria patrocinada pela União Europeia e pelas Nações Unidas, mas não é esperada a presença de alguns atores-chave, como Rússia e Turquia.

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