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Moscou defende Damasco após suposto ataque químico na Síria

De acordo com a tese de Moscou, ao explodir o depósito, as substâncias teriam se disseminado pela região.

Agência France-Presse
postado em 05/04/2017 08:31
Khan Shekhun, Síria - O governo da Rússia saiu em defesa do regime de Damasco nesta quarta-feira, após a morte de 72 civis, incluindo 20 crianças, em um suposto ataque químico em uma cidade do noroeste da Síria, evento que provocou indignação entre a comunidade internacional. O Conselho de Segurança da ONU se reunirá em caráter de urgência nesta quarta-feira para examinar as circunstâncias do episódio, que pode ter sido o segundo "ataque químico" mais letal desde o início do conflito.

"Todas as provas que vi sugerem que foi o regime de Assad... usando armas ilegais contra seu próprio povo", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, ao chegar em Bruxelas para uma conferência de dois dias sobre a Síria.
A Rússia afirmou, alegando informações "completamente confiáveis e objetivas", que a aviação síria bombardeou um "armazém terrorista" com "substâncias tóxicas". De acordo com a tese de Moscou, ao explodir o depósito, as substâncias teriam se disseminado pela região.

Washington, Londres e Paris apresentaram na terça-feira um projeto de resolução ao Conselho de Segurança que condena o ataque químico na Síria e exige uma investigação completa e rápida da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

O texto também exige que o regime, que nega "categoricamente" as acusações, apresente os planos de voo e todas as informações sobre as operações militares no momento do ataque. O projeto ameaça impor sanções com o uso do capítulo 7 da Carta das Nações Unidas.

;Mortos em suas camas;

O balanço do ataque "desumano", de uma "crueldade sem equivalente" e um "crime de guerra", nas palavas do secretário-geral da ONU, António Guterres, subiu para 72 civis mortos, incluindo 20 crianças, e mais de 160 feridos, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). O número pode aumentar porque algumas pessoas estão desaparecidas, advertiu a ONG.

As vítimas começaram a sofrer convulsões quando estavam em suas casas ou nas ruas no momento do bombardeio, que aconteceu às 7H00 de terça-feira (1H00 de Brasília) em Khan Sheikhun, pequena cidade da província rebelde de Idlib, noroeste do país. "Corremos para dentro das casas e vimos famílias inteiras mortas em suas camas", disse à AFP Abu Mustafa, morador da cidade.

"Também havia crianças, mulheres e idosos mortos nas ruas", recorda. De acordo com os médicos, os sintomas dos pacientes são similares aos constatados em vítimas de um ataque químico: pupilas dilatadas, convulsões e espuma saindo pela boca.

Após o bombardeio, o hospital que atendia as vítimas foi atingido em dois momentos por bombas, o que provocou danos consideráveis e a fuga de funcionários. O OSDH informou que pelo menos cinco ataques foram executados na manhã desta quarta-feira na cidade. O ex-braço da Al-Qaeda e grupos rebeldes que controlam a região prometeram vingar as dezenas de vítimas do ataque.

[SAIBAMAIS]A tragédia ameaça fragilizar ainda mais a trégua em vigor na Síria desde 30 de dezembro, que é violada diariamente pelos bombardeios do regime em vários redutos rebeldes e por combates entre os insurgentes. A oposição síria alerta que o ataque abala as negociações de paz mediadas pela ONU em Genebra, que até o momento não apresentaram resultados.

"Se a ONU é incapaz de impedir que o regime cometa estes crimes, como vai conseguir um processo político para uma transição?", questionou Mohamad Sabra, principal negociador na oposição. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu um grande esforço a favor das negociações de paz sobre a Síria em Genebra, que tem a mediação da ONU.

"Temos que unir a comunidade internacional nas negociações", declarou Mogherini. A Casa Branca endureceu o tom contra Assad, mas a condenação foi acompanhada mais uma vez por um apelo para reconhecer a "realidade política" na Síria, onde mais de 320.000 pessoas morreram em seis anos de guerra.

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