A Colômbia acelerava nesta quarta-feira as tarefas de recuperação em Mocoa, arrasada por um deslizamento que matou 290 pessoas, enquanto os órgãos de controle investigam se as autoridades relaxaram nos trabalhos de prevenção e podem ter culpa na tragédia.
[SAIBAMAIS]A cidade colombiana, encravada na Amazônia, despertou nesta quarta-feira com o movimento de caminhões e maquinaria que removiam terra em busca de sobreviventes de uma tragédia que deixou até o momento 290 vítimas fatais e 332 feridos, além de um número indeterminado de desaparecidos.
Mais de 340 socorristas exploram lugares nos quais se acredita que possam existir corpos, embora muitas vezes interrompam seu trabalho vencidos pela lama e pelas pedras, e à espera da chegada de mais máquinas para ajudar nas buscas.
De acordo com o ministro da Defesa e gerente da reconstrução, Luis Carlos Villegas, aproximadamente 2.800 pessoas - 500 a 600 famílias - foram diretamente atingidas pela tragédia. Todas elas permanecem em cinco abrigos.
O governo realiza campanhas de vacinação enquanto, entre os escombros, a cidade ressuscita. É possível ver pessoas cozinhando à lenha em algumas esquinas, casas se iluminando com velas ao cair da noite, além de caminhões de água indo e vindo.
Em alguns momentos passam caminhonetes que anunciam ajuda para animais feridos ou que foram abandonados após o deslizamento.
Alguns ainda têm a esperança de encontrar um familiar perdido após a tragédia. A Cruz Vermelha Colombiana reporta 341 casos de pessoas que buscam seus entes queridos.
"Estabelecendo responsabilidades"
Ciente dos esforços para reerguer a cidade e encontrar desaparecidos, as autoridades iniciaram outro tipo de busca: a de justiça.
"É preciso estabelecer responsabilidades (...) Mas não é o tema repressivo, é o tema preventivo. De que valem todas as sanções impostas agora, contra 260, 270 mortos", disse o controlador-geral, Edgardo Maya, cuja entidade - que vigia a gestão fiscal e a administração do erário - investigará possíveis responsabilidades de funcionários nesta tragédia.
Por sua vez, a Procuradoria planeja citar o atual prefeito de Mocoa e a governadora de Putumayo, assim como seus antecessores, segundo versões da imprensa.
Enquanto isso, a Procuradoria, que investiga as irregularidades cometidas por funcionários públicos, fez um apelo para que sejam adotadas medidas urgentes que possam prevenir tragédias como a de Mocoa.
Roubos a casas
Centenas de pessoas recebem ajuda nos abrigos, mas outras preferem montar guarda em suas casas destruídas para evitar o roubo do pouco que restou.
"Um dia após o deslizamento fomos tirar as coisas. Quando voltamos, no mesmo dia à tarde, os ladrões já haviam arrasado tudo (...) o que o deslizamento não fez, eles fizeram", contou à AFP Juan Luis Hernández, de 33 anos, no muito afetado bairro de San Miguel.
A comunidade alertou para saques nas casas abandonadas, e o presidente Juan Manuel Santos pediu que a polícia reforce as medidas de segurança.
O deslizamento, registrado por volta da meia-noite de sexta-feira após a cheia de três rios depois de fortes chuvas, afetou cerca de 45.000 habitantes.
Em Mocoa vivem 70.000 pessoas, disse à AFP a governadora de Putumayo, Sorrel Aroca.
Segundo um estudo, a tragédia de Mocoa pode se repetir em outros 385 lugares da Colômbia, e supera o último grande desastre natural sofrido pelo país, um deslizamento em Salgar que matou 92 pessoas em maio de 2015.