Agência France-Presse
postado em 16/04/2017 17:50
A autoridade eleitoral turca declarou neste domingo a vitória do presidente Recep Tayyip Erdogan no referendo que reforçará seus poderes, mas a oposição denunciou fraudes e anunciou que contestará o resultado.
Durante uma coletiva de imprensa, o chefe do Alto Conselho Eleitoral (YSK), Sadi Güven, afirmou que o ;Sim; estava à frente do ;Não; por cerca de 1,25 milhão de votos, faltando apenas 600.000 votos a serem apurados.
De acordo com resultados não-oficiais divulgados pela agência de notícias pró-governo Anadolu, o ;Sim; obteve 51,3% dos votos contra 48,7% do ;Não;, com 99% das urnas apuradas.
Após um dia de grande tensão, o ;Não;, que começou a contagem muito atrás, conseguiu encurtar a distância para o ;Sim; ao longo da apuração, sem, contudo, ser capaz de superá-lo.
"Hoje (...) a Turquia tomou uma decisão histórica", declarou Erdogan a jornalistas em sua residência oficial em Istambul. "Com o povo, realizamos a reforma mais importante da nossa história", acrescentou o chefe de Estado, que pediu aos países estrangeiros para que "respeitem" o resultado.
Pouco depois, o presidente turco mencionou a possibilidade de organizar um novo referendo, desta vez sobre o restabelecimento da pena de morte, o que encerraria o processo de adesão da Turquia à União Europeia.
"Com esta votação, abrimos uma nova página da nossa democracia", declarou, por sua vez, o primeiro-ministro Yildirim Bilali na sede do seu partido, o AKP, em Ancara. "Este referendo não tem perdedor. O vencedor é a Turquia".
Reagindo a este resultado, a União Europeia pediu para que a Turquia busque "um consenso nacional".
Os primeiros resultados indicam o quanto o país está dividido sobre as mudanças constitucionais propostas, enquanto o ;Não; venceu nas três maiores cidades do país: Istambul, Ancara e Izmir.
"Em vista do resultado apertado do referendo e as implicação profundas das mudanças constitucionais, pedimos (...) às autoridades turcas que busquem o consenso nacional mais amplo possível", escreveram em um comunicado o presidente da Comissão europeia, Jean-Claude Juncker, a chefe da diplomacia Federica Mogherini e o responsável pela ampliação da UE, Johannes Hahn.
Protestos da oposição
Os dois principais partidos da oposição na Turquia denunciaram "manipulações" e anunciaram sua intenção de solicitar uma recontagem dos votos.
O chefe do principal partido de oposição CHP (social-democrata), Kemal Kiliçdaroglu, declarou que a mudança no último minuto das regras eleitorais colocavam em questão a legitimidade do referendo e "jogava uma sobra sobre a decisão da nação".
O partido anunciou através de um de seus líderes que questionava os votos de quase 37% das urnas. Esta proporção pode chegar a 60%, segundo afirmou Erdal Aksünger, vice-secretário-geral do CHP.
"Acreditem em mim, este referendo não acabou", declarou Aksünger à CNN Turk, citado pela agência de notícias Dogan. "Foi totalmente inválido", disse ele.
Enquanto isso, o segundo partido de oposição, o pró-curdo HDP, anunciou no Twitter que irá impugnar os votos de "dois terços" das urnas. "As informações que recebemos apontam uma manipulação da ordem de 3 ou 4 pontos percentuais", disse ele.
Os dois partidos denunciaram energicamente uma medida anunciada no último momento pelo Alto Conselho Eleitoral (YSK) de considerar válidos os votos sem o carimbo oficial da assembleia de voto onde foram introduzidos na urna.
A cédula era única e dividida em duas partes: um espaço em branco com a palavra "Sim" e outro com o "Não". Para votar, os turcos deveriam marcar o lado de sua preferência com um carimbo.
A oposição já havia reclamado de uma campanha desequilibrada, com cartazes em favor do Sim em todas as esquinas e restrições aos meios de comunicação às vozes da oposição.
Cerca de 55,3 milhões de eleitores foram chamados às urnas para decidir sobre uma revisão constitucional que muda o sistema parlamentar atual para um sistema presidencialista.
A reforma prevê, em particular, a supressão do cargo de primeiro-ministro e a concentração de amplas prerrogativas nas mãos de Erdogan.
Reestruturação drástica
Com a confirmação da vitória, Erdogan, de 63 anos, que superou uma tentativa de golpe nove meses atrás, pode permanecer no poder até 2029.
Antes de ser eleito presidente, foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014.
O governo considera esta reforma essencial para garantir a estabilidade do país e para enfrentar os desafios econômicos e de segurança.
Por sua vez, a oposição critica um novo passo autoritário de Erdogan, que é acusado de tentar silenciar todas as vozes dissidentes, especialmente desde a tentativa de golpe de 15 de julho.
A Turquia também segue sob estado de emergência, imposto após o golpe. Cerca de 47.000 pessoas foram presas e mais de 100.000 perderam seus empregos ou foram suspensas desde então.
A segurança foi um dos centros da campanha. O país tem sofrido nos últimos meses uma onda de ataques sem precedentes ligados ao grupo Estado Islâmico (EI) e aos rebeldes curdos. As autoridades mobilizaram 33.600 policiais em Istambul para garantir a segurança do referendo, de acordo com a agência pró-governo Anadolu.