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Governador cristão de Jacarta é derrotado por rival muçulmano

Nos últimos meses, os partidários de um maior rigor religioso realizaram manifestações em massa contra o governador cristão, acusado de blasfêmia

Agência France-Presse
postado em 19/04/2017 09:19
Jacarta, Indonésia - O governador cristão de Jacarta, julgado há meses por insultar o Islã, perdeu as eleições locais ante seu rival muçulmano nesta quarta-feira, segundo as primeiras estimativas, após eleições marcadas por fortes tensões religiosas. O cristão Basuki Tjahaja Purnama, chamado de Ahok, conquistou 42% dos votos, contra 58% para o muçulmano Anies Baswedan, ex-ministro da Educação, segundo projeções de empresas e institutos especializados em pesquisas de opinião pública, sobre 100% dos votos.

Em uma coletiva de imprensa, Ahok reconheceu veladamente sua derrota. "Entendo que estão tristes e decepcionados", disse o governador em fim de mandato aos seus partidários. "Esperamos os resultados definitivos", limitou-se a dizer seu rival.

Teste de tolerância

Estas eleições eram consideradas um teste para a tolerância religiosa na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo, onde, nos últimos meses, os conservadores aumentaram sua influência frente à visão tradicionalmente moderada do Islã. Nos últimos meses, os partidários de um maior rigor religioso realizaram manifestações em massa contra o governador cristão, acusado de blasfêmia.

As eleições também foram palco de um confronto entre os grandes atores políticos do país, que consideram o influente posto de governador da capital de 10 milhões de habitantes como um trampolim para as eleições presidenciais de 2019. Um total de 7,2 milhões de eleitores, em sua maioria muçulmanos, estavam convocados às urnas para o segundo turno destas eleições, e mais de 60.000 membros das forças de segurança foram mobilizados para a ocasião. Os resultados oficiais serão divulgados no início de maio.

Apesar dos protestos relacionados ao caso de blasfêmia, Ahok, de 50 anos, havia liderado o primeiro turno de 15 de fevereiro com 43% dos votos, enquanto seu rival, Anies, de 47 anos, havia obtido 40%. Mas Ahok ficou em uma situação precária. O terceiro candidato, Agus Yudhoyono, filho de um ex-presidente e também muçulmano, conquistou 17% dos votos e, embora não tenha dado nenhum apoio para o segundo turno, seus eleitores parecem ter escolhido Anies.

Ahok, o primeiro governador não muçulmano no último meio século e o primeiro procedente da minoria chinesa, cederá provavelmente o posto ao qual havia chegado em 2014, após a eleição como presidente de seu antecessor Joko Widodo, de quem era então um vice muito popular.

Maior rigor

Ahok, um político conhecido por sua franqueza, classificou em setembro de errônea a interpretação feita por alguns ulemás (teólogos muçulmanos) de um versículo do Alcorão que afirma que um muçulmano só pode escolher um líder de sua religião. Suas declarações provocaram uma onda de protestos em um país onde 90% da população professa o Islã.

Suas palavras foram manipuladas pelos islamitas partidários de um maior rigor religioso e pelos muçulmanos mais conservadores, embora vários especialistas tenham denunciado motivações políticas. No fim de 2016, o governador foi acusado de blasfêmia, um crime punível com até cinco anos de prisão. Na quinta-feira será divulgada a pena exigida pela acusação.

Ahok se tornou popular por sua luta contra a corrupção, um problema muito comum entre as autoridades, e por ter realizado reformas em Jacarta, uma metrópole saturada e desorganizada. Durante a campanha, depois do primeiro turno, seu rival muçulmano gerou críticas por se reunir com dirigentes islamitas conservadores para aumentar sua possibilidade de êxito.

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