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Quais são as chances de uma 3ª Guerra Mundial? Especialistas respondem

O Correio consultou especialistas em relações internacionais para saber se o mundo corre, de fato, o risco de viver uma terceira guerra mundial devido ao aumento das tensões entre EUA, Rússia e Coreia do Norte

Fernando Jordão - Especial para o Correio
postado em 21/04/2017 16:40
Mísseis lançados pelos EUA na Síria
As crescentes tensões envolvendo Estados Unidos, Rússia e Coreia do Norte suscitaram em muitas pessoas o medo de uma Terceira Guerra Mundial. Por isso, o Correio consultou especialistas em relações internacionais para saber se o mundo corre, de fato, o risco de viver um novo conflito em nível global.
Todos os professores consultados fizeram a ressalva de que, na política internacional, é difícil fazer qualquer afirmação com certeza. Mesmo assim, foram unânimes ao dizer que o risco de uma Terceira Guerra Mundial, ao menos neste momento, é muito pequeno.
"Uma guerra mundial é uma guerra que envolve potências com capacidade de projetar poder militar no mundo, como os Estados Unidos, a Rússia, a China e, talvez, a União Europeia, caso decida se unir. Porém, nenhuma dessas tem interesse em entrar em confronto direto com outra. A maioria delas tem armamento nuclear e é inconcebível que uma inicie um conflito com a outra, sob risco de ser atacada", explica Geraldo Zahran, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em estudos sobre os Estados Unidos.

Os EUA demonstram poder

Presidente dos EUA, Donald Trump

Para Creomar de Souza, docente do curso de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), o que os Estados Unidos estão tentando fazer é reposicionar sua política externa.
"As última ações do (presidente dos EUA, Donald) Trump em relação à Rússia e à Coreia do Norte são mais um exercício de ameaça e demonstração de poder do que um ato explícito de declaração de guerra. O objetivo é reposicionar a política externa americana, após um período, com Barack Obama, em que essas variáveis eram colocadas em âmbito mais discursivo. Trump quer mudar a retórica para uma perspectiva que melhor o atenda. Não significa que haverá a eclosão de um conflito", justifica.
"É um processo de reacomodação que se assemelha a alguns momentos da Guerra Fria, onde havia a construção de elementos retóricos, o que não gerava, em termos claros, a possibilidade de uma guerra", completa.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin

Já Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), acredita que as ameaças e os ataques promovidos pelos Estados Unidos têm uma motivação doméstica. "Trump não conseguiu aprovar uma série de políticas que ele prometeu em campanha. Ele tem enfrentado problemas políticos domésticos muito rapidamente."
Essa variável, analisa Cortinhas, faz com que o presidente se volte para o meio internacional para aumentar sua popularidade. "Há uma expressão segundo a qual os americanos se tornam mais patriotas, correm para a bandeira, em tempos de guerra", afirma. "Claro que isso pode gerar consequências. Os outros países não estão preocupados com a popularidade de Trump. O risco existe, porque existe um aumento na instabilidade do sistema internacional. Está havendo rearranjos nos poderes, e isso, historicamente, gera conflitos. O que muda agora é o armamento nuclear. Ironicamente, é ele que, desde 1945, tem evitado muitas guerras", finaliza.

Conflitos em outros países

A improbabilidade de uma nova guerra mundial não significa, contudo, que as ações dos Estados Unidos em relação à Rússia e à Coreia do Norte não terão consequência. Na avaliação dos especialistas, deve haver uma intensificação de ataques a países de menor potencial bélico.
"Haverá um acirramento de tensões, principalmente dentro da Síria, no combate ao Estado Islâmico e no apoio a Bashar al-Assad (presidente da Síria). Rússia e EUA podem aumentar a presença na região, e a estratégia utilizada deve continuar sendo os ataques", afirma Zahran.
"O padrão mais provável é que os grandes Estados continuem atuando em seus vizinhos mais fracos. A Rússia na Ucrânia, os EUA e a Rússia na Síria, e a China na Coreia do Norte, por exemplo", acrescenta. "No fim, quem sai mais prejudicado são as populações dos países periféricos", lamenta Cortinhas.

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