Agência France-Presse
postado em 21/04/2017 11:36
Os sírios retirados de cidades sitiadas retomaram nesta sexta-feira a viagem para seu destino final, após um bloqueio de 48 horas, uma operação de evacuação que foi suspensa por um violento atentado e divergências de último minuto.
O fim da retirada de civis e combatentes de localidades controladas pelo regime ou pelos rebeldes deve concluir a primeira fase do acordo entre o regime de Bashar al-Assad e os rebeldes que permitiu a saída de mais de 11.000 pessoas.
Para as 3.300 pessoas que deixaram as cidades sitiadas na quarta-feira a espera foi longa. Os 60 ônibus que deveriam partir estavam paralisados em duas zonas de trânsito na periferia de Aleppo (norte).
Desde quarta-feira, 45 ônibus com civis e combatentes que deixaram Fua e Kafraya, duas localidades da província de Idleb, estavam parados em Rashidin, subúrbio rebelde de Aleppo.
De modo paralelo, 11 ônibus que transportavam os moradores de três localidades rebeldes - Zabadani, Serghaya e Khabal Sharqi - estavam parados desde quarta-feira à noite na região de Ramusa, controlada pelo governo ao sul de Aleppo.
A operação estava condicionada à libertação de 750 prisioneiros das penitenciárias do regime.
Parte dos ônibus, dos dois lados, retomou a viagem rumo ao destino final respectivo, afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Rahman, no entanto, não teve condições de confirmar se os prisioneiros foram libertados.
A operação havia começado na semana passada, mas foi interrompida por um violento atentado no sábado passado, que deixou 126 mortos, incluindo 68 crianças.
O presidente sírio Bashar al-Assad acusou nesta sexta-feira a Frente Fateh al-Sham, ex-filial da Al-Qaeda na Síria, de ter cometido o ataque de 15 de abril.
"Foi a Frente Al-Nusra (antigo nome da Frente Fateh al-Sham). Não se escondem e acredito que todos concordam que foi Al-Nusra", declarou Assad em uma entrevista à agência russa Ria Novosti.
O atentado com carro-bomba não foi reivindicado e atingiu dois ônibus com civis de Fua e Kafraya, cidades leais ao regime e cercada há dois anos pelos rebeldes.
O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, afirmou que os autores do atentado estavam disfarçados de voluntários.
O presidente sírio também negou o uso de gás sarin durante o suposto ataque químico em Khan Sheikhun, ao mesmo tempo que afirmou ter "100% de certeza" de que os rebeldes receberam armas químicas da Turquia.
"O único caminho para que os terroristas recebam dinheiro, armas, qualquer material, novos recrutas ou tais substâncias passa pela Turquia", declarou.
Assad citou ainda negociações para novas entregas de armas russas ao exército sírio, especialmente sistemas de defesa antiaérea, já que Damasco perdeu, segundo ele, mais de 50%" de seus equipamentos nesta área.
O presidente sírio minimizou ainda o número de vítimas em mais de seis anos de conflito, calculado em 320.000 mortos e em milhões de deslocados e refugiados.
"Não podemos falar de números oficiais. São dezenas de milhares (de mortos), e não de centenas de milhares, como afirma a imprensa", disse, antes de explicar que não inclui em seu balanço os desaparecidos e as vítimas estrangeiras.
Os números divulgados pela imprensa ocidental "são cifras para inflar o total, para mostrar até que ponto a situação é horrível e utilizar isto como pretexto humanitário para invadir a Síria", completou.