Agência France-Presse
postado em 28/04/2017 12:29
Manila, Filipinas - Uma dezena de pessoas foram encontradas amontoadas em um espaço minúsculo escondido atrás de uma estante em uma delegacia de polícia nas Filipinas, o que alimenta novamente o temor de supostos abusos na guerra antidrogas do presidente Rodrigo Duterte. Membros da Comissão Governamental para os Direitos Humanos, acompanhados de alguns jornalistas, encontraram homens e mulheres durante uma visita surpresa, na tarde de quinta-feira, ao posto policial localizado nas favelas da capital, Manila.
Os visitantes ouviram gritos - "Estamos aqui, estamos aqui" - procedentes de uma parede. Em seguida, encontraram uma porta escondida atrás da estante que levava a um pequeno espaço. Os prisioneiros correram rapidamente para fora. Alguns pediam água, outros, chorando, imploravam para que os membros da Comissão não os abandonassem. Os prisioneiros disseram estar detidos ali há uma semana, após sua prisão por suposto uso ou tráfico de drogas. Também acusaram a polícia de ter exigido um grande resgate para sua libertação.
"Eles foram presos sob o pretexto das drogas, mas não foram acusados %u200B%u200Bde nenhum crime", declarou nesta sexta-feira à AFP Gilbert Boisner, diretor em Manila na Comissão de Direitos, encarregada desta operação. O responsável da delegacia em Manila, o delegado Robert Domingo, afirmou aos jornalistas presentes durante a inspeção que os detidos haviam sido presos na noite anterior e os agentes se preparavam para acusá-los. Domingo foi suspenso de suas funções depois de uma investigação, declarou o chefe de polícia de Manila, Oscar Albayalde, que reconheceu que as prisões ilegais se generalizaram nos últimos tempos.
Corrupção
Segundo a organização Human Rights Watch, trata-se de uma nova revelação sobre os abusos dos direitos humanos cometidos durante a campanha de repressão contra as drogas, que provocou a morte de milhares de pessoas. "A descoberta desta prisão secreta é apenas o sinal mais recente de como a polícia explora, com fins pessoais, a campanha antidrogas abusiva de Duterte", estimou a ONG.
Em janeiro, o presidente do país afastou brevemente a polícia da campanha antidrogas, já que uma investigação havia revelado que os oficiais da brigada de entorpecentes sequestraram e assassinaram um empresário sul-coreano para obter uma recompensa de sua família. Duterte declarou então que a polícia era "corrupta até a medula" e prometeu limpar suas fileiras. No entanto, um mês depois os policiais continuaram em suas funções sem que uma grande reforma tenha sido realizada.
Os defensores de direitos humanos duvidaram da vontade do presidente - que havia estimado que 40% dos agentes se dedicavam a estas atividades ilegais - para que a polícia abandone a corrupção. A polícia anunciou ter matado ao menos 2.724 pessoas, em situação de legítima defesa, no âmbito da luta antidrogas. Milhares de pessoas foram assassinadas por milícias, de acordo com a Human Rights Watch.