Agência France-Presse
postado em 29/04/2017 10:34
Bruxelas, Bélgica - Os líderes europeus adotaram neste sábado "por unanimidade" sua "firme" estratégia para as negociações de divórcio com o Reino Unido, em uma cúpula sem sua colega britânica na qual ressaltaram sua unidade diante do Brexit.
"Orientações adotadas por unanimidade. O justo e firme mandato político da UE a 27 para as negociações do Brexit está pronto", tuitou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que ressaltou horas antes a importância da unidade para conseguir "concluir as negociações".
O encontro ocorre dias depois de uma troca de declarações de ambos os lados do Canal da Mancha. A primeira-ministra britânica, Theresa May, acusou os 27 de "se unirem contra o Reino Unido", depois que sua colega alemã, Angela Merkel, advertiu que Londres "não gozará dos mesmos direitos" fora do bloco.
O negociador europeu para o Brexit, Michel Barnier, afirmou ao chegar ao encontro que esta "unidade não está dirigida contra o Reino Unido", enquanto o presidente francês, Francois Hollande, indicou que o Brexit terá um "preço" para o Reino Unido, embora "não tenha por que ser punitivo".
O Reino Unido comunicou formalmente no dia 29 de março sua decisão de se tornar o primeiro país a sair do bloco e, desde então, ambas as partes aceleram os preparativos de negociações que se anunciam complexas e nas quais a UE já ressaltou suas prioridades: direitos dos cidadãos, contas a pagar e Irlanda.
- ;Colisão de trens; -
Além disso, a estratégia europeia passa por não abordar a futura relação com um Reino Unido fora do bloco, que pode incluir um acordo de livre comércio, enquanto não forem registrados progressos significativos nas negociações de divórcio e especialmente nas três prioridades.
No entanto, as negociações sobre esta futura relação, que podem romper a unidade demonstrada até o momento no bloco, parecem distantes. Embora o Reino Unido já tenha demonstrado sua preferência por negociá-la simultaneamente ao divórcio, os europeus se recusam a isso até o momento.
Em suas orientações de negociação, adotadas rapidamente pelos líderes, os 27 querem garantir os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e vice-versa, assim como deixar clara a obrigação para Londres de pagar por seus compromissos já assumidos com os seus parceiros e que, segundo fontes europeias, podem chegar a 60 bilhões de euros.
A terceira prioridade é a "questão irlandesa", especialmente quando ninguém deseja o retorno de uma fronteira física entre a República da Irlanda e a britânica Irlanda do Norte, nem o questionamento dos acordos de paz na zona. Mas o tema financeiro é o que, de acordo com uma fonte diplomática, poderia levar a uma "colisão de trens".
Para a Espanha, o Estado da UE com mais britânicos residentes fora de seu país, a questão de garantir os direitos dos cidadãos é uma prioridade, sobretudo porque o Reino Unido é o "primeiro destino" de seus investimentos e há espanhóis trabalhando lá, lembrou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy.
- O ;Brexit de Theresa; -
Tusk também propôs nas orientações, reveladas no dia 31 de março, incluir que qualquer acordo sobre as futuras relações entre Gibraltar e a UE deverá contar com o acordo prévio entre Londres e Madrid, o que gerou uma intensa polêmica entre as duas capitais.
A reunião também serve para lançar a batalha sobre a transferência da Autoridade Bancária Europeia e da Agência Europeia de Medicamentos, atualmente baseadas em Londres e que já contam com dezenas de cidades interessadas em acolher alguma delas, como Barcelona.
O processo de divórcio acaba de começar. Após a cúpula, a Comissão Europeia publicará sua proposta de diretrizes de negociação, os 27 darão o mandato negociador a Barnier e, tudo isso, antes das eleições britânicas antecipadas.
May convocou estas eleições com o objetivo de reforçar sua posição antes das negociações, embora os presidentes europeus tenham relativizado o impacto de uma eventual vitória esmagadora da britânica, já que na ocasião as orientações de negociação já estarão fixadas.
Para o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, as eleições britânicas são um "problema interno", nas quais a primeira-ministra britânica buscará o apoio da população para "não ter um Brexit duro ou leve, mas o Brexit de Theresa".