Agência France-Presse
postado em 01/05/2017 09:18
Havana, Cuba -Cuba se mobiliza para celebrar o 1; de maio, o último com Raúl Castro à frente do governo, e em apoio ao presidente Nicolás Maduro, cada vez mais encurralado pelos violentos protestos na Venezuela.
Com 85 anos e pouco mais de uma década no poder, Castro planeja ceder o comando em fevereiro de 2018, depois de impulsionar uma cautelosa e lenta abertura ao mercado e restabelecer relações com os Estados Unidos, o inimigo histórico da Guerra Fria.
Ainda que siga à frente do Partido Comunista de Cuba - o único legal neste país de 11,2 milhões de habitantes -, sua substituição significará, teoricamente, o fim de um ciclo de quase seis décadas no qual os cubanos só conheceram dois governantes: Fidel e Raúl Castro, os irmãos que triunfaram com a Revolução de 1959.
A mobilização nacional prestará uma homenagem especial ao ex-presidente falecido em novembro de 2015. Apenas em Havana são esperados mais de 500.000 trabalhadores, estudantes e delegados internacionais na Plaza de la Revolución.
Diferentemente de outros países, onde o dia 1; de Maio é motivo de reivindicações trabalhistas e confrontos com a polícia, em Cuba há manifestações em apoio ao governo. O Estado emprega quase 70% dos quase cinco milhões de trabalhadores.
Os cubanos também se mobilizarão em apoio ao presidente da Venezuela, o maior aliado da ilha, que enfrenta uma severa crise econômica e protestos que deixam 28 mortos em um mês.
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"Nosso povo demonstrará seu repúdio aos incidentes ocorridos na Venezuela, e ratificará seu apoio inabalável aos movimentos progressistas da região", afirmou Ulises Guilarte, membro do burô político e máximo dirigente da Central de Trabalhadores de Cuba.
O destino de Maduro, cuja saída do poder é exigida pelos manifestantes, afetará fortemente o futuro econômico de Cuba, que mantém um tratamento privilegiado com a Venezuela que lhe garante o fornecimento de petróleo.
Segundo vários analistas, o governo de Raúl Castro vem se prevenindo diante de um eventual colapso do chavismo.
"A Venezuela reduziu suas exportações de petróleo à ilha em cinquenta por cento, e Cuba está armando novos contratos com outros países como Angola e Argélia", disse à AFP Andrew Otazo, diretor do Cuba Study Group, com sede em Washington.
Según Otazo, "o governo cubano não pode fazer muito para ajudar Maduro", com exceção de "servir como obstáculo em organizações regionais" que tentem criticar o governo venezuelano.
- Substituição incerta -
Neste contexto, o tradicional ato desta segunda-feira terá um significado especial por ser o último liderado por Raúl Castro como chefe de Estado. A nove meses da histórica substituição, ninguém sabe ao certo quem será seu sucessor, enquanto o país lida com a recessão econômica.
Arrastada pela crise venezuelana, a atividade se contraiu 0,9% em 2016 na ilha e o governo parece ter congelado a reforma iniciada em 2008 e que permitiu um tímido crescimento do setor privado, assim como a chegada de investimentos estrangeiros, embora abaixo do esperado.
"A incerteza para 2018 é muito alta. Pode-se esperar um processo de continuidade, mas não com a mesma velocidade com a qual as mudanças vieram, porque isso não deu resultados", indicou Pavel Vidal, ex-funcionário do Banco Central de Cuba e acadêmico da Universidade Javeriana da Colômbia.
Castro está à frente do regime de partido único do qual sairá seu sucessor, em um complexo processo de eleições que começará em novembro.
Aos 56 anos, o vice-presidente do Conselho de Estado Miguel Díaz-Canel é a principal aposta para tomar as rédeas do poder. Formado dentro do Partido Comunista, tem experiência ministerial, embora careça de influência dentro das Forças Armadas, um ator chave na transição.