Agência France-Presse
postado em 08/05/2017 10:51
Seis meses depois da comoção que representou a eleição nos Estados Unidos de um presidente cético quanto à realidade das mudanças climáticas, os signatários do histórico Acordo de Paris se reúnem a partir desta segunda-feira, em Bonn, para começar a aplicá-lo. "Este acordo internacional é a única esperança de sobrevivência para os pequenos estados insulares", declarou Thoriq Ibrahim, ministro de Meio Ambiente das Maldivas, em um comunicado publicado na véspera da reunião em Bonn.
Sua declaração reflete a grande preocupação dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, reforçada pela chegada ao poder de Donald Trump e sua decisão de não lutar contra o aquecimento do planeta. Os países litorâneos e as pequenas ilhas em geral estão particularmente expostos à elevação do nível do mar provocado pelas mudanças climáticas (dilatação das águas, derretimento das calotas polares e das geleiras).
Thoriq Ibrahim também destaca a mobilização política, apesar da eleição de Trump, em plena conferência sobre o clima de Marrakesh. "Desde a COP22, em novembro, 44 países ratificaram o acordo, recorda, e com isso já são 144 nações no total, equivalentes a 83% das emissões mundiais.
[SAIBAMAIS]A União Europeia e 196 países são membros da Convenção sobre o Clima da ONU, depois da adesão da Palestina em 2015. No final de 2015, em Paris, 195 países e a UE conseguiram fechar um acordo para combater o aquecimento global, o que implica - entre outras medidas - uma transição energética radical que substitua as energias fósseis (carvão, petróleo, gás).
Entre os grande emissores de gases de efeito estufa, apenas a Rússia não ratificou o texto, apesar de tê-lo assinado em Paris. A Rússia é o quinto maior emissor depois da China, Estados Unidos, União Europeia e Índia. É pouco provável que o faça sob a presidência de Vladimir Putin, que, em março, declarou que é impossível impedir o aquecimento climático vinculado, segundo ele, aos "ciclos globais da Terra".
Washington, por sua vez, não deixou claro se quer ou não sair do Acordo de Paris, mas começou a desmantelar a política ambiental impulsada pelo ex-presidente Barack Obama. A Casa Branca deve anunciar suas intenções no final de maio. O próximo G20, no início de julho na Alemanha, também servirá de "esclarecimento", assegura Laurence Tubiana, ex-negociadora francesa, para saber se o clima continua no topo da agenda dos países mais poderosos. Os membros do G20 representam cerca de três quartos das emissões mundiais de gases do efeito estufa.
A reunião de Bonn (8-18 maio) ia ser "muito técnica", mas "a especulação sobre a posição de Washington figura no topo das nossas preocupações", disse à AFP Thoriq Ibrahim, ministro do Meio Ambiente das Maldivas, em nome dos pequenos Estados insulares. Além da sua vontade de apoiar a exploração de energias fósseis, Trump prevê deixar de financiar o Fundo Verde para o Clima, a Convenção do clima da ONU (que supervisiona as negociações) e o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima (Giec).
China e Índia em primeiro plano
Os governos russo e americano ficam em segundo plano na luta climática, mas a China e a Índia reafirmaram seus compromisso, o que também permite reduzir a poluição e sua fatura petroleira. "A China está sob grande pressão em nível doméstico para reduzir a poluição do ar produzida pelo carvão e combustíveis fósseis, e tem grande interesse em ser líder dos mercados das novas tecnologias", explica Alden Meyer, da "Union of Concerned Scientists".
"Nova Délhi também vê grandes vantagens em seus objetivos de desenvolvimento de energias renováveis para melhorar a qualidade do ar e de reduzir as importações do petróleo", acrescenta. Para que o Acordo de Paris possa ser plenamente aplicado a partir de 2020, várias disposições devem ser aprofundadas.
Que informações os países deverão publicar sobre sua política climática? Que tipos de projetos estão incluídos na contabilidade dos financiamentos do clima? Os países têm até a COP24, na Polônia em 2018, para redigir uma espécie de manual ("livro de regras") sobre o Acordo de Paris.
Até lá, deverão decidir de que forma farão um pré-balanço em 2018, de caráter voluntário e chamado "diálogo facilitador". Trata-se de saber que informações deverão ser dadas e com que finalidade.
Esta nova reunião foi agendada porque os cientistas consideram que os compromissos dos países adotados antes da COP 21 implicarão em um aumento médio da temperatura global de 3;C em relação à era industrial, e que as emissões devem ser reduzidas o mais rápido possível para que a subida da temperatura fique abaixo de 2;C, um nível que já traria enormes alterações em grande escala.