Agência France-Presse
postado em 09/05/2017 20:29
Um túnel carregado com material altamente radioativo desmoronou nesta terça-feira em uma usina nuclear dos Estados Unidos, onde as autoridades descartaram, por enquanto, qualquer risco de vazamento.
A situação foi detectada em uma inspeção de rotina na usina Hanford, 275 km ao sudeste de Seattle. Foi declarada uma emergência na instalação, e se ativou um procedimento de evacuação e proteção dos trabalhadores em zonas seguras.
"Os oficiais continuam monitorando o ar e trabalham em como fechar o buraco no teto do túnel", indicou um comunicado do Departamento de Energia, que opera a usina, e que mais cedo descartou que haja feridos ou qualquer evidência de vazamento radioativo.
O Hanford Site, que ocupa uma área de 1.500 km2, foi estabelecido em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, como parte do Projeto Manhattan para proporcionar plutônio para armas nucleares.
De lá saiu o material utilizado na fabricação, por exemplo, da bomba que foi lançada em Nagasaki e matou 70.000 pessoas.
Seu último reator foi fechado em 1987, mas há milhões de galões de resíduos em tanques no local.
De fato, esta usina concentra hoje o maior volume de resíduos nucleares dos Estados Unidos e é objeto de um imenso projeto de limpeza, que custa bilhões de dólares.
O que aconteceu?
O túnel afetado é um dos situados junto a uma enorme usina de extração de urânio e plutônio, conhecida como PUREX.
"Empregados da PUREX notaram nesta manhã que uma área do solo tinha cedido em cima dos túneis anexos à usina. (...) Nesse momento se declarou a emergência, e cerca de meia dúzia de funcionários foram evacuados", indicou Destry Henderson, porta-voz do Centro de Emergência de Hanford, que depende do Departamento de Energia, em um vídeo transmitido no Facebook.
"Em uma investigação adicional, as equipes notaram que uma parte do túnel tinha sido afetada, o teto tinha desmoronado em uma seção de 20 pés (seis metros) do túnel", acrescentou. "Não sabemos o que causou a queda do teto", embora relatos de imprensa a atribuam a trabalhos de construção em uma estrada próxima.
Como parte do protocolo de emergência, foi ordenado a todos os funcionários se protegerem em locais seguros, não beberem água e assegurarem a ventilação. Só o pessoal essencial permanece na usina, o resto foi liberado.
O Departamento de Energia informou em um comunicado que "no local do colapso e nas proximidades, a equipe implementou um TALON, um dispositivo de topografia operado remotamente que é capaz de monitorar higiene industrial e radiológica, assim como capturar imagens de vídeo".
Uma foto divulgada no site do Centro de Emergência de Hanford mostra o buraco de 6x6 metros sobre o túnel, que está coberto de terra.
"Estão buscando opções para uma barreira entre a carga contaminada no túnel e o exterior" e para que o buraco não aumente, apontou o Departamento.
"Fora de controle"
O incidente ocorreu na junção desses dois túneis, que eram usados nos anos 1950 e 1960 para armazenar material contaminado.
Entre os resíduos armazenados há chumbo, sais de prata e mercúrio, "considerados extremamente tóxicos e perigosos", além de inflamáveis.
Em Hanford Site há 177 tanques com material radioativo, que segundo a organização Beyond Nuclear caiu no rio Columbia, que só começou a ser limpado em 1989.
Especialistas questionaram o modelo e a qualidade destes tanques.
Em abril de 2016, se registrou um vazamento em um tanque de resíduos, que o Departamento de Energia disse que foi consequência de uma operação para esvaziar o tanque e que não representava nenhum risco para o público ou o meio ambiente.
Em junho de 2013, altos níveis de radioatividade foram detectados fora de um tanque de resíduos nucleares em Hanford, que foi ampliado durante a Guerra Fria para a fabricação de bombas.
"A gestão de resíduos radioativos está fora de controle", disse em um comunicado Kevin Kamps, do comitê de vigilância de resíduos radioativos da Beyond Nuclear, citando outros acidentes ocorridos em 2014 e 2015 em Novo México e Nevada e pedindo que outros depósitos de resíduos sejam fechados para evitar "futuros desastres".