Agência France-Presse
postado em 10/05/2017 14:38
A Turquia expressou sua revolta com o que chamou de decisão "inaceitável" dos Estados Unidos de fornecer armas às milícias curdas na Síria, que celebraram a iniciativa e afirmaram que "acelerará a derrota" do grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan pediu aos Estados Unidos que voltem atrás "sem demora" em sua decisão.
"Gostaria muito que (os Estados Unidos) voltassem atrás nesse erro sem demora", declarou durante uma coletiva de imprensa, acrescentando que expressaria "suas preocupações" ao presidente americano Donald Trump durante uma visita em 16 de maio a Washington.
O aumento da tensão entre Washington e Ancara coincide com a visita a Washington do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, nesta quarta-feira (10/5), com o objetivo de obter o apoio dos Estados Unidos para um projeto destinado a reduzir a violência na Síria.
A decisão da Casa Branca de autorizar o Pentágono a fornecer armas às Unidades de Proteção do Povo curdo (YPG), que Ancara considera um grupo "terrorista", foi anunciada na terça-feira.
"Está fora de questão que aceitemos" o fornecimento de armas às YPG, reagiu nesta quarta-feira o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, acrescentando que não entendia que "os Estados Unidos escolhessem entre nossas relações estratégicas e uma organização terrorista".
"Queremos acreditar que nossos aliados irão escolher permanecer ao nossa lado, e não ao lado de organizações terroristas", declarou Erdogan, acrescentando que "combater um grupo terrorista ajudando um outro grupo terrorista é um erro".
Apesar da indignação turca, o chefe do Pentágono, Jim Mattis, disse ter confiança na capacidade de Washington de "dissipar todas as preocupações" da Turquia. "Trabalharemos muito estreitamente (...) para apoiar sua segurança na fronteira" com a Síria, afirmou.
As YPG são uma parte essencial das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de combatentes curdos e árabes considerada por Washington como a força local mais eficaz para enfrentar o EI.
A Turquia, no entanto, considera as YPG o braço sírio dos separatistas curdos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo "terrorista" por Ancara e seus aliados ocidentais.
"As YPG e o PKK são grupos terroristas, não existe nenhuma diferença entre eles. E cada arma enviada representa uma ameaça para a Turquia", declarou o chanceler turco, Mevlüt Cavusoglu.
O tema abalou nos últimos meses as relações entre Estados Unidos e Turquia, dois membros importantes da Otan e da coalizão internacional que luta contra os jihadistas, ao mesmo tempo que ilustra a complexidade do conflito sírio, principalmente na região norte do país.
Ancara e Moscou, embora de lados opostos no conflito sírio, aumentaram a cooperação recentemente e na semana passada patrocinaram um memorando para criar "zonas de distensão" destinadas a reduzir a violência na Síria, conflito que deixou mais de 320.000 mortos desde 2011.
Decisão "importante"
As FDS, que iniciaram em novembro uma ofensiva contra Raqa, o reduto do EI na Síria, com o apoio aéreo e logístico dos Estados Unidos, celebraram o que chamaram de decisão "importante" da Casa Branca, que "acelerará a derrota do terrorismo".
O anúncio "oficial do apoio é o resultado da grande eficácia das YPG e do conjunto das FDS nos combates contra o terrorismo" na Síria, afirmou à AFP Talal Sello, porta-voz das FDS.
As YPG saudaram, por sua vez, uma "decisão histórica que dará "um impulso importante" a todas as forças que combatem o EI.
A decisão desagradou a Turquia, que esperava com a eleição de Trump uma mudança de postura de Washington a respeito das milícias curdas, que a administração do ex-presidente Barack Obama decidiu apoiar para tentar conter a expansão dos extremistas.
Erdogan declarou recentemente que tinha a esperança de escrever uma "nova página" nas relações entre Turquia e Estados Unidos com Trump. Ele indicou que tentaria, na viagem a Washington, dissuadir o presidente americano de apoiar as milícias curdas para expulsar o grupo EI de Raqa.
Ancara iniciou em 24 de agosto uma ofensiva no norte da Síria para empurrar os jihadistas ao sul, mas também para impedir uma união das diferentes zonas controladas pelas YPG no norte da Síria.
O governo turco teme que os grupos curdos controlem mais territórios no norte da Síria, perto da fronteira com a Turquia, e se recusou a participar em qualquer ofensiva contra Raqa que contem com o envolvimento das YPG.