Agência France-Presse
postado em 11/05/2017 19:52
Beirute, Líbano - Os combatentes curdos e árabes perseguiam nesta quinta-feira os últimos extremistas na cidade de Tabqa, cuja recuperação na véspera abre o caminho a Raqa, a "capital" de fato do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria.
Trata-se de uma das vitórias mais importantes das Forças Democráticas Sírias (FDS), a aliança curdo-árabe apoiada pelos Estados Unidos que luta desde 2015 contra a organização extremista mais temida do mundo.
Além da cidade, as FDS se apoderaram na quarta-feira da represa de Tabqa, a maior da Síria.
"As operações de rastreamento prosseguem na cidade. As FDS puderam ser mobilizados na represa durante a noite", indicou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). "Mas os civis seguem sem poder ter acesso a certas partes da cidade devido às minas" espalhadas pelo EI, disse.
O comando das forças americanas no Oriente Médio (Centcom) celebrou em um comunicado a "libertação" de Tabqa, após uma operação da qual participou a aviação da coalizão internacional liderada por Washington.
Os últimos membros do EI presentes na cidade e na represa cederam suas posições às FDS e fugiram, e foram bombardeados pela coalizão, precisou o Centcom. Antes, os soldados da aliança curdo-árabe obrigaram os jihadistas a "desativar" seus explosivos e a entregar suas "armas pesadas".
A tomada de Tabqa, situada no norte 55 km a oeste de Raqa, ocorre um dia após os Estados Unidos anunciarem pela primeira vez que forneceriam armas às Unidades de Proteção Popular (YPG), componente curdo das FDS.
Este anúncio provocou a ira da Turquia, aliada de Washington na Otan, que considera que as YPG são uma organização terrorista.
Depois dos temores de inundações se a represa cedesse e da fuga dos técnicos durante os últimos combates, uma equipe de manutenção esperava nesta quinta-feira a autorização das FDS para entrar, segundo uma fonte próxima a esta equipe.
Os técnicos esperam avaliar os possíveis danos e garantir que o local não está minado, segundo a mesma fonte.
As YPG divulgaram nesta quinta-feira um vídeo que mostra combatentes e crianças dançando a dabke (dança tradicional no Oriente Médio) em Tabqa.
Em outro vídeo é possível ver um grupo de crianças falando com entusiasmo à câmera: "a represa foi liberada".
Localizada no rio Eufrates, Tabqa é uma cidade chave na rota para Raqa, o principal reduto do EI na Síria.
Desde que as FDS lançaram em novembro a ofensiva chamada de "Cólera do Eufrates", esta aliança pôde reconquistar grandes territórios na província de Raqa, com a ajuda dos bombardeios aéreos americanos, e bloquear as principais rotas ao redor da cidade.
Seus combatentes estão agora a 8 km da cidade e o cerco se estreita antes do ataque final.
Irritação de Ancara
Além dos ataques aéreos, as FDS contam com a ajuda de assessores americanos e com os canhões dos Marines mobilizados há alguns meses.
As FDS estão dominadas pelas YPG que, embora insultadas por Ancara, são o principal aliado dos americanos na luta contra o EI na Síria.
Washington também anunciou que reforçaria seu apoio fornecendo armas às YPG, algo inédito em uma administração americana.
Até agora, os americanos sempre afirmaram que só forneciam armas ao componente árabe das FDS, e não às YPG.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou o Pentágono a equipar as milícias curdas "o quanto for necessário" para conquistar uma clara vitória sobre o EI em Raqa.
As YPG classificaram esta decisão de histórica, mas ela provocou a ira de Ancara, que considera estas milícias a filial síria do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
"As YPG e o PKK são grupos terroristas, não há nenhuma diferença entre eles. E cada arma que lhes chega representa uma ameaça para a Turquia", declarou na quarta-feira o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu.
A decisão dos Estados Unidos é uma desilusão para a Turquia, onde a eleição de Trump provocou a esperança de uma mudança de posição em relação às milícias curdas, às quais a administração Obama decidiu apoiar para bloquear o avanço extremista.
O anúncio da Casa Branca foi feito uma semana antes da visita a Washington do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que pediu que a administração americana "mude imediatamente" sua decisão.