Agência France-Presse
postado em 19/05/2017 14:56
Genebra, Suíça - As negociações de paz sobre a Síria organizadas pela ONU em Genebra terminam nesta sexta-feira (19/5) sem avanços, em um contexto de tensão após o bombardeio americano no dia anterior contra forças do regime perto da fronteira jordaniana.
O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, deve concluir esta semana de discussões com uma coletiva de imprensa. Ele se reuniu nesta manhã com a delegação de Damasco, liderada pelo embaixador Bashar al-Jaafari, e se reunirá na parte da tarde com o Alto Comitê de Negociações (HCN), que se reúne a oposição.
Na madrugada desta sexta-feira, oito grupos rebeldes anunciaram que suspenderiam a sua participação no HCN em protesto contra o processo de decisão durante as discussões. Mas nesta manhã, o HCN anunciou que sua delegação estava completa.
Enquanto isso, as tensões aumentavam um dia após o bombardeio pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos de um comboio ligado ao regime sírio perto da fronteira com a Jordânia, seis semanas após os primeiros ataques aéreos ordenados pelo governo Trump na Síria.
A Síria condenou esta "agressão da coalizão", enquanto o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Gennady Gatilov, citado em Genebra por agências de notícias russas, denunciou um bombardeio "inaceitável".
Ao falar à imprensa em Genebra, Jaafari citou "um massacre".
A Rússia condenou o bombardeio "ilegítimo" pela coalizão, nas palavras do ministro das Relações Exteriores, Sergue; Lavrov.
"Seja qual for a razão que motivou a decisão do comando dos Estados Unidos de realizar tal bombardeio, é ilegítimo, ilegal e outra grave violação da soberania da Síria", ressaltou nesta sexta-feira o chefe da diplomacia russa, citado pela agência de notícias Interfax numa conferência de imprensa em Nicósia.
A Síria não informou um número de vítimas. Mas segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), oito pessoas "em sua maioria não-sírias" morreram no ataque.
Um porta-voz do HCN, Yehya al-Aridi, considerou se tratar de uma "ação robusta contras as forças estrangeiras que transformaram a Síria em um campo de batalha".
O bombardeio visou "as forças pró-regime (...) que representavam uma ameaça para as forças americanas e as forças aliadas (sírias) em At-Tanf", perto da fronteira jordaniana, segundo declarou o coronel Ryan Dillon, porta-voz militar da coalizão anti-extremista liderada por Washington.
Em seis anos, a guerra causou a morte de mais de 320.000 pessoas e forçou metade da população a deixar suas casas.
Os esforços para acabar com o conflito correm em dois circuitos paralelos: o da ONU em Genebra, e aquele centrado em questões de segurança em Astana, capital do Cazaquistão, por iniciativa da Turquia, que apoia os rebeldes, e da Rússia e o Irã, aliados do regime sírio.
Em 4 de maio, os três países assinaram um importante acordo prevendo a criação de "zonas de desescalada" na Síria a fim de limitar o derramamento de sangue.
Já nas Nações Unidas, após cinco rodadas de diálogos sem sucesso desde fevereiro de 2016, a assessoria do enviado especial da ONU para a Síria anunciou na quinta-feira um resultado tangível: conversas de funcionários da ONU com especialistas do governo e com a oposição para tratar de "questões jurídicas e constitucionais relacionadas com os diálogos inter-sírios".