Agência France-Presse
postado em 05/06/2017 08:15
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein e Iêmen romperam nesta segunda-feira as relações diplomáticas com o Catar, ao acusar o país de apoiar o "terrorismo", uma decisão que também implica a expulsão de Doha da coalizão árabe que luta no Iêmen.
O Catar rejeitou a decisão, que chamou de "injustificável" e "sem fundamento". O país denunciou em um comunicado divulgado pelo ministério das Relações Exteriores que o objetivo da medida é "colocar o Estado (do Catar) sob tutela, algo totalmente inaceitável".
A agência estatal de Riad, a SPA, informou que a Arábia Saudita cortou os vínculos diplomáticos e consulares com o país vizinho para "proteger a segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo".
De acordo com uma fonte oficial citada pela SPA, o país também decidiu "fechar fronteiras terrestres, marítimas e a ponte aérea". A medida "decisiva" foi motivada pelas "graves violações cometidas pelas autoridades do Catar nos últimos anos", completou a fonte.
[SAIBAMAIS]A companhia aérea Etihad Airwaysm, dos Emirados Árabes, anunciou a suspensão dos voos com pouso e decolagem no Catar. A medida entrará em vigor na terça-feira "até nova ordem".
Na Austrália, onde está em visita oficial, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, pediu aos países do Golfo que permaneçam unidos e superem as divergências.
"Estimulamos as partes para que sentem e tratem as divergências", afirmou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos em Sydney.
"Acreditamos que é importante que o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) permaneça unido", completou.
Crise mais grave em décadas
Esta é a crise mais grave desde a criação em 1981 do CCG, formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar. Em poucas horas, quatro países anunciaram a ruptura de laços diplomáticos com o governo de Doha.
A agência de notícias do Bahrein afirmou que o pequeno reino cortaria os vínculos com o Catar por suas reiteradas ameaças "à segurança e à estabilidade do país e por interferências em seus temas".
O ministério das Relações Exteriores do Egito informou que o Cairo decidiu "acabar com as relações diplomáticas com o Estado do Catar" porque Doha apoia o "terrorismo". Também anunciou o fechamento de todas as rotas marítimas e aéreas entre os dois países.
O Catar era um dos principais apoios ao ex-presidente islamita egípcio Mohamed Mursi, derrubado em 2013 pelo ex-comandante das Forças Armadas e atual presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. Desde então os dois países têm uma relação tensa.
O comunicado egípcio menciona "o fracasso de todas as tentativas para dissuadir (o Catar) de apoiar organizações terroristas".
Alguns analistas temem que a situação provoque a repetição da crise de 2014, quando vários embaixadores de países do Golfo em Doha foram convocados por seus governos, em especial por acusações de que o país apoiava a Irmandade Muçulmana.
Na semana passada o emir do Catar viajou ao Kuwait para uma reunião com o emir xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, o que foi considerado uma tentativa de obter uma mediação.
Expulso da coalizão militar
O Catar também foi expulso da coalizão militar árabe que atua no conflito no Iêmen. A coalizão, liderada pela Arábia Saudita, justificou a decisão pelo suposto apoio do Catar a organizações jihadistas como a Al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico no Iêmen, segundo um comunicado divulgado pela agência oficial saudita SPA.
A coalizão está presente há mais de dois anos no conflito do Iêmen para apoiar o governo de Abd Rabo Mansur Hadi, que luta contra os rebeldes huthis, um grupo de milícias xiitas. O conflito iemenita já deixou mais de 8.000 mortos e 45.000 feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em um comunicado, o governo do presidente Mansur Hadi anunciou que apoia a decisão da coalizão árabe e a ruptura das relações diplomáticas com este país. O governo iemenita denunciou o Catar por "abusos, vínculos com as milícias de conspiradores e apoio aos grupos extremistas".
A Arábia Saudita, que tem as Forças Armadas com melhores equipamentos do Oriente Médio depois de Israel, é um dos principais compradores de armas do mundo e também um dos grandes aliados de Washington na região, frente ao Irã e contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e Iraque.
Doha enfrentava há muito tempo as acusações de ser um Estado que apoia o "terrorismo".
Muitos criticam o apoio de Doha a grupos rebeldes que lutam contra o presidente sírio Bashar al-Assad e vários cidadãos do país foram objetos de sanções do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, acusados de financiar atividades "terroristas".