Agência France-Presse
postado em 13/06/2017 11:44
Muita fantasia, desejo de solidariedade e um pacto de anonimato inquebrantável. Um Batman argentino transformou o hospital infantil de La Plata em um local de risadas para enfrentar a dor e fonte de doações do que falta no setor público. "Me sinto muito conectado com meu espírito de criança e com a solidariedade. Sobretudo em uma Gothan City como esta que é a Argentina", explicou à AFP em sua ;Batcaverna;, Bruno Díaz, o mascarado de La Plata - cidade 60 km ao sul de Buenos Aires.
Ele é Batman dos pés à cabeça. Só revela que é docente, realiza tarefas administrativas de segunda a sexta-feira, é casado e tem três filhos pequenos. "Quando me veem de Batman, acho que se assustam um pouco", acrescenta. "Mas não posso dizer mais nada, quero preservar minha identidade", diz com voz grave.
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Há quatro anos, todas as sextas-feiras sobe ao seu ;Batmóvel;, um Renault Fluence preto com linhas amarelas e ;asas;. O logo do super-herói está nos pneus, volante, faróis e pedais. "Ainda é do banco, falta pagar uma parcela", conta na garagem da casa onde esconde o veículo de curiosos. Quando liga o motor, começa a tocar a música de Batman Begins (2005), o primeiro filme da trilogia do diretor Christopher Nolan. "Santa aventura", diria o personagem criado em 1939 e popularizado em uma série de televisão entre 1966 e 1968.
[SAIBAMAIS]Ao ritmo de notas dramáticas, acelera até 110 km/h nas ruas estreitas de um bairro de classe trabalhadora. Estaciona no hospital infantil "Sor María Ludovica" de La Plata, um centro de saúde pública de alta complexidade, e desce carregado de desenhos e doces.
Solidariedade e justiça
O Batman solidário foi visto de civil, pela primeira e única vez, por duas freiras do hospital na manhã de 2 de abril de 2013, quando pediu autorização para visitar os doentes. Naquela noite, La Plata sofreria uma catástrofe natural: um temporal inundou metade da cidade, deixando cerca de 90 mortos, centenas de afetados e danos milionários. Estreou em seu personagem com um traje de neoprene, capa e botas de neve.
Sem saber, ele começou nesta função anos depois de que um alter ego nos Estados Unidos, Lenny Robinson, se tornou popular entre as crianças por também visitá-las no hospital vestido de Batman. Morreu em 2015 em um acidente em seu Batmóvel. "Escolhi Batman por muitos motivos, características pessoais que têm a ver com a solidariedade, com acreditar que sem justiça nada pode funcionar bem", explicou.
No hospital, é recebido com risadas."Muda o ânimo dos meninos que estão mal", afirmou Celia Quiroz, mãe de Pablo Valdez, com sete anos e um Batman em seu pijama, que está hospitalizado por uma infecção que lhe impede de andar. A irmã Adriana, cúmplice na brincadeira, ajusta sua capa antes de ir para outra sala com crianças em estado de saúde mais delicado.
Muitos Robins e um ;Batiencontro;
Mas onde está Robin? "A função de Robin é cumprida por um monte de pessoas", aponta o Batman argentino. "É um círculo íntimo de familiares e amigos que cumprem essa função de me conter. Tenho a benção de contar com pessoas muito valiosas e altruístas", diz. Faz o sinal da cruz na capela do hospital antes de entrar em ação. "Tenho o poder de mudar, ainda que seja por um instante, esses momentos tristes", afirma.
Duas vezes por ano, ele organiza um "batencontro" solidário. No último, em maio, "juntamos 25 televisões de LCD de 32 polegadas para doar", contou. O evento também serviu para repor termômetros e outros insumos. Tiraria a máscara para ser político? "Minto se disser que nunca pensei nisso", admite. Mas "por enquanto este é o meu lugar, e espero que um dia meu filho siga os meus passos", concluiu o ;super-herói; de La Plata.