Agência France-Presse
postado em 19/06/2017 17:43
Mais de 1.000 bombeiros continuavam tentando controlar o gigantesco incêndio florestal na região central de Portugal, que custou a vida de pelo menos 64 pessoas.
Após um fim de semana com temperaturas de 40; C em várias regiões do país, o clima ficou um pouco mais ameno, mas o incêndio, declarado no sábado à tarde em Pedrógão Grande, prosseguia na direção das regiões vizinhas de Castelo Branco e Coimbra.
O número de focos diminui em ritmo constante desde domingo, mas repórteres da AFP comprovaram que na noite de segunda-feira as chamas ainda arrasavam as colinas de Pedrógão Grande, onde o incêndio começou no sábado.
Os recursos mobilizados continuavam sendo praticamente os mesmos, com mais de 1.000 bombeiros e de 700 veículos, além de 11 aviões. "O risco de incêndio é máximo no centro", alertou a Proteção Civil.
"Portugal chora por Pedrógão Grande" ou "Em memória das vítimas" eram algumas das manchetes dos jornais. "Como isto pode ter acontecido?", perguntava o Jornal de Notícias. "Por quê?", questionava o Público.
"Nossa dor é imensa, assim como nossa solidariedade com as famílias da tragédia", declarou no domingo à noite o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda emocionado com a maior tragédia da história recente de Portugal.
"Temos uma sensação de injustiça, pois a tragédia afetou os portugueses dos quais se fala pouco, de uma zona rural isolada", completou.
A morte de um bombeiro que estava hospitalizado aumentou para 63 o número de mortos, além dos 60 feridos, incluindo cinco em estado grave, uma criança e quatro bombeiros. Mas as autoridades não descartam a possibilidade de encontrar outras vítimas nas áreas devastadas pelas chamas.
Nas colinas situadas entre as localidades de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, que 24 horas antes das chamas estavam repletas de eucaliptos e pinheiros, a devastação era total.
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"O fim do mundo"
De acordo com as autoridades, muitas vítimas morreram em seus veículos quando se viram cercadas pelas chamas no momento em que passavam pela rodovia nacional 236, que liga Figueiró dos Vinhos a Castanheira de Pera, no sábado.
"Era verdadeiramente um inferno. Pensei que o fim do mundo havia chegado. Não acreditei que sairia viva", contou à televisão portuguesa Maria de Fátima Nunes, que foi resgatada.
Corpos foram encontrados em casas localizadas em áreas isoladas. Pelo menos três povoados próximos a Pedrógão Grande foram evacuados.
A maior parte das vítimas identificadas "morreu em suas casas, que não deixaram a tempo", destacou o primeiro-ministro, António Costa, que pediu à população que respeite as ordens de evacuação.
"Se deixar a minha casa, vai queimar tudo, pois não temos ninguém que nos ajude", declarou Fernando Pais, um agricultor de 50 anos que morava com a mulher e o filho em Trespostos, perto da localidade de Campelo.
A família Pais não abandonou a sua casa e há mais de 24 horas luta sozinha contra as chamas com uma simples mangueira.
"Conhecia várias vítimas. Uma amiga perdeu a mãe e a filha de quatro anos porque não conseguiu retirá-las da parte de trás do carro", disse Isabel Ferreira, de 62 anos, habitante da região.
Reforços europeus
A polícia judicial "pôde determinar que uma tempestade seca provocou o incêndio", descartando a possibilidade criminal, após encontrar uma árvore atingida por um raio.
Quatro aviões de combate Canadair espanhóis e outros três franceses chegaram no domingo para ajudar os bombeiros portugueses. Nesta segunda-feira, chegarão dois aviões espanhóis e dois italianos, assim como reforços terrestres, no âmbito do mecanismo europeu de proteção civil, ativado a pedido de Lisboa.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, prometeu a Lisboa "toda a ajuda necessária" para combater o fogo.