Mundo

Política de Trump produz menos deportações e mais prisões de imigrantes

Além disso, foram retiradas medidas de proteção, como a proibição da deportação de pais de crianças nascidas nos Estados Unidos

postado em 24/06/2017 10:10
Um balanço dos cinco primeiros meses de governo Donald Trump mostra que, em comparação com a administração de Barack Obama, houve uma queda na quantidade de deportações porém um maior número de prisões de imigrantes indocumentados não criminosos ; 150% a mais que mesmo período do governo anterior. Além disso, foram retiradas medidas de proteção, como a proibição da deportação de pais de crianças nascidas nos Estados Unidos.
Na semana passada, o governo Trump anunciou o cancelamento da chamada Ação Diferida para os Pais de Americanos e Residentes Permanentes (Deferred Action for Parents of Americans and Lawful Permanent Residents - DAPA), um instrumento criado em 2014 pela gestão de Obama. Antes, imigrantes sem documentos, com filhos americanos, tinham acesso à ação diferida que podia ser usada para impedir a deportação. A ação não era um status legal completo, mas permitia que o portador do DAPA trabalhasse no país.

Nos primeiros três meses de governo Trump foram deportadas quase 26 mil pessoas, muito menos que o último trimestre do governo Obama, que deportou entre outubro de 2016 e 20 de janeiro deste ano, mais de 70 mil pessoas. Ao todo, a gestão Obama foi a que mais deportou imigrantes desde 1986: mais de 2, 8 milhões de pessoas em oito anos.

A característica mais marcante até agora da política migratória da gestão Trump é o aumento das prisões de imigrantes. O aumento global foi de 40% o que inclui todas as detenções entre janeiro e abril, de imigrantes indocumentados que cometeram crimes comuns e hediondos e também para aqueles que não praticaram ações criminosas, exceto pelo fato de estarem irregulares nos EUA. A quantidade de pessoas presas somente por não terem permissão legal para estar no país triplicou é o que mais chama a atenção até agora.

Entre janeiro e abril foram quase 11 mil prisões não criminais, em comparação com 4.200 em 2016, número três vezes maior. O diretor da Agência de Imigração dos EUA (U.S. Immigration and Customs Enforcement - ICE), Thomas Homan, atribuiu o aumento de prisões à direção clara dada pela administração Trump para coibir ameaças à segurança pública nacional.

Chama atenção o fato de que, na quantidade geral de prisões, somente 20% dos imigrantes indocumentados presos entre janeiro e abril deste ano têm histórico de crimes violentos.

Isso porque a nova política migratória deu mais poder aos agentes de imigração para deportar de maneira sumária ; sem necessidade de audiência judicial ; imigrantes com até dois anos no país. Crimes antes considerados simples, foram reclassificados como graves ; como usar documento falso, mentir ou dirigir sem carteira de motorista ; o que ampliou a quantidade de detenções.

Em uma entrevista coletiva, Homan ponderou que a prioridade é a segurança, mas que o ICE vai ;continuar a perseguir todos os imigrantes ilegais que receberam uma ordem final de remoção por um juiz de imigração, inclusive aqueles que não possuem antecedentes criminais;.

O advogado George Handersman, especializado em imigração, disse que a tendência é que aumente ainda mais a quantidade de prisões. Segundo ele, o processo de deportação não é tão rápido como se pensa. "Há um processo legal e um custo para o governo. Mas se há mais detenções, Trump passa uma mensagem que está cumprindo sua promessa de uma política anti-imigração ilegal massiva", destacou.

Logo no início de sua gestão, Trump tentou limitar a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana (Iraque, Iêmen, Irã, Síria, Líbia, Somália e Sudão). Com o bloqueio da medida pela Justiça, a Casa Branca reescreveu a ordem executiva, deixando de fora o Irã, mas manteve os demais países.

A nova ordem não chegou a entrar em vigor, mas direta ou indiretamente o reflexo aparece na quantidade de vistos concedidos para os seis países da lista, que caiu 21% em março deste ano na comparação ao mesmo período do ano passado. A redução global na quantidade de vistos de entrada para os Estados Unidos foi de 15%.

A queda para o Brasil até agora foi de 4%. A imprensa latina no país ouviu analistas que afirmam que ainda não é possível dizer se a redução global é reflexo de uma queda na procura dos vistos por cidadãos estrangeiros ou ocorreu porque os consulados e embaixadas americanas estão sendo mais criteriosos para liberar novos vistos.

Medo constante


Entre os imigrantes que já vivem nos Estados Unidos, o clima é de maior temor agora que nos anos anteriores. A artesã e artista brasileira Neide Silva vive entre o Canadá e os Estados unidos há trinta anos. Ela já tem cidadania canadense, por isso pode entrar e sair facilmente dos EUA, mas não tem permissão para trabalhar no país.

Neide vive de seu artesanato, de peças trabalhadas em madeira, mas quando a situação econômica aperta ela diz que faz faxinzas em casas. No ano passado, ela comprou um trailer e realizou o sonho de poder viver viajando pelo país.

Ela contou à Agência Brasil que o ambiente piorou muito para os imigrantes sem documentação. ;Eu nunca vivi uma época tão delicada quanto agora aqui. O governo Trump está espalhando o medo e o terror para os imigrantes;, afirmou.

Na comparação entre os dois governos, ela disse que a política de deportação era mais constante e houve, de fato, muitas deportações. ;Agora, as pessoas têm mais medo de dirigir sem carteira e ir para a prisão. A sensação de que algo vai acontecer e a incerteza aumentaram muito;, opinou.

O aumento da ;pressão; do governo sobre imigrantes se reflete no cotidiano das famílias. José Silva (nome fictício) vive nos Estados Unidos há 14 anos, sem documentação. Ele havia entrado com um pedido para a DAPA, a ação diferida para pais de pessoas nascidas nos Estados Unidos, e que foiextinta na semana passada. Agora, não tem mais acesso à proteção.

Casado com uma brasileira e com três filhos menores de 10 anos, José trabalha na construção civil e diz que vive atemorizado. ;Em 2010, eu estava dirigindo em alta velocidade e fui multado. Havia tomado duas cervejas e aqui é muito sério dirigir depois de beber;, disse. Por conta disso, ele respondeu a um processo e teve a infração de trânsito registrada.

Embora tenha pago e respondido pela infração e não tenha voltado a dirigir sob o efeito do álcool, ele conta que o fato o colocou em uma lista de prioridades para deportação. ;Se eu conseguisse a DAPA teria uma ajuda para estar mais seguro sobre estar aqui com minha família. Agora, a gente tem que esperar e estar muito cuidadoso;, comentou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação