Agência France-Presse
postado em 09/07/2017 13:13
A Venezuela completa, neste domingo (9/7), 100 dias de protestos contra o presidente Nicolás Maduro, e o cenário é de incertezas. A soltura do líder opositor Leopoldo López pode abrir as portas para uma negociação que afrouxe a profunda crise política no país.
Símbolo dos opositores encarcerados, López foi para o regime domiciliar neste sábado, após três anos e cinco meses na prisão. A oposição não se deu por satisfeita e convocou novas marchas até alcançar "a liberdade plena do país".
A mudança do regime de Leopoldo é o aceno mais expressivo do governo à oposição desde o início de uma onda de protestos em 1; de abril que já deixou 91 mortos, em meio a uma devastadora crise econômica.
"Mais que uma concessão do regime, a medida adotada é resultado da insistente pressão das ruas que os venezuelanos têm feito há 100 dias", assegurou a opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
O Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), que a oposição acusa de ser aliado ao governo, alegou "problemas de saúde" para colocar López em prisão domiciliar - usando uma tornozeleira eletrônica, segundo sua família.
López, que tem 46 anos, foi detido em fevereiro de 2014 e condenado a quase 14, acusado de instigar a violência em protestos contra Maduro naquele ano, que deixaram 43 mortos.
"Que esse passo se converta em maior convicção. Com 100 dias de resistência, voltamos à rua", convocou o opositor em mensagem lida por seu colega Freddy Guevara.
Ele também convidou a população a participar de um plebiscito simbólico em 16 de julho, para mostrar a recusa massiva à Assembleia Constituinte convocada por Maduro. López interpreta a votação como "fraude" do chavismo para proteger "uma ditadura". A eleição presidencial acontece duas semanas depois.
;Ninguém oferece a própria cabeça;
Ainda que analistas estimem que está cedo para medir o impacto da decisão, o governo cedeu ao tirar das grades quem ele acusa de "monstro". López aceitou a prisão domiciliar apesar de ter dito que só sairia com liberdade plena e após a libertação de todos os opositores presos.
Sua soltura acontece após três meses de esforços do ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, que mediou, no ano passado, uma fracassada negociação entre governo e oposição.
Em comunicado, Rodríguez Zapatero defendeu que esse "passo muito importante dado pelo governo" permita avançar para a paz e a convivência democrática" e que se intensifiquem os esforços na busca de soluções
A saída de López da prisão foi celebrada por governos da América Latina, Espanha e Estados Unidos. Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), duro crítico de Maduro, vê nisso uma oportunidade de reconciliação e uma "saída democrática".
Maduro, que acusa a oposição de promover a violência em protestos para dar um golpe de Estado, disse esperar que os opositores aceitem dialogar e que López "passe uma mensagem de reparação e de paz" .
"O governo pode estar interessado em reduzir a tensão porque a situação política atual representa riscos, como uma ruptura no setor militar, mas ninguém oferece a própria cabeça voluntariamente", opinou o analista Luis Vicente León.
"Sem dúvida, há uma oportunidade para a negociação, mas uma negociação que não é popular em nenhum dos extremos e que implica em concessões", advertiu León.