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Maduro desafia EUA: Constituinte acontecerá apesar de ameaça de sanções

Maduro explicou que o plano combinará esforços do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), da Justiça Militar e do Ministério do Interior


O mandatário rechaçou esses pedidos e chamou de "insolente" a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, que não descartou sanções. Maduro foi particularmente duro com seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, afirmando que "não governa nem a Colômbia mas acredita ser o presidente da Venezuela".

A França pediu, na segunda-feira, "diálogo sincero" para resolver a crise, enquanto uma centena de legisladores da Colômbia e do Chile denunciaram Maduro à procuradoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia por violação de direitos humanos.

O chanceler venezuelano, Samuel Moncada, afirmou que com suas ameaças os Estados Unidos "cavam" um "fosso" em suas relações com a Venezuela -ambos os países estão sem embaixadores desde 2010-, e acrescentou que, por ordem de Maduro, fará uma revisão profunda dos vínculos bilaterais. "Não aceitamos humilhações de ninguém", manifestou.

Moncada anunciou que a Venezuela declarou ;persona non grata; os ex-presidentes Vicente Fox (México), Jorge Quiroga (Bolívia), Andrés Pastrana (Colômbia), Laura Chinchilla e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica), observadores do plebiscito e que defenderam uma maior pressão internacional para deter a Constituinte.

Em um áudio distribuído à imprensa, o chanceler da Costa Rica, Manuel González, defendeu os ex-presidentes mencionados e qualificou a declaração do governo venezuelano de "censurável". Segundo González, a declaração reflete uma atitude comum de Caracas, "que tem um desprezo por aquelas pessoas que pensam diferente, que lutam por uma solução pacífica para o retorno da democracia na Venezuela".

De volta ao país, o ex-presidente Rodríguez disse ao jornal local La Nación que não há "honra maior para um costarriquenho que ser ;persona non grata; para uma ditadura". Por outra parte, o presidente da Bolívia, Evo Morales, aliado de Maduro, considerou como uma "conspiração econômica" a advertência de Trump.

"Paralisação total"
Animada pelo plebiscito, a oposição ativou nesta segunda-feira o início da "hora zero", uma estratégia que combina aumento de protestos e a conformação de poderes estatais paralelos àqueles que estariam a serviço do governo. Nesta terça-feira, o Parlamento, de maioria opositora, iniciou o trâmite para a designação de novos magistrados da alta corte.

Como preâmbulo da "escalada definitiva para a próxima semana", a oposição convocou uma greve cívica na quinta-feira, pedindo que empresários, comerciantes e funcionários de meios de transporte suspendam suas atividades, e que a população não saia para trabalhar.

"Significa a paralisação total. Todos os cidadãos têm o dever de pressionar pela restituição da ordem constitucional. A mensagem é que este país não vai tolerar uma fraude constituinte", assegurou nesta terça-feira o dirigente opositor Freddy Guevara.

Maduro, que considerou "ilegal" o plebiscito por não ter tido aval do poder eleitoral -acusado de governista- assegura que a oposição busca derrotá-lo com o apoio dos Estados Unidos, que segundo diz financia os protestos. O presidente pediu uma chance para sua Constituinte, um "suprapoder" que regirá o país por tempo indefinido, sob a promessa de que trará a paz e a recuperação econômica.