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Uruguai se torna primeiro país a vender maconha estatal para uso recreativo

Produzida por duas empresas privadas em áreas sob vigilância oficial e sujeitas a um monitoramento da qualidade do produto, a maconha de uso recreativo é vendida ao público em recipientes branco e azul, contendo cinco gramas da droga

Agência France-Presse
postado em 19/07/2017 11:49
Para fazer a compra, é preciso se registrar, e cada pessoa inscrita tem direito a comprar 40 gramas mensais, a US$ 1,30 o grama

O Uruguai começou a vender em farmácias, nesta quarta-feira (19), maconha para uso recreativo, produzida sob controle do Estado, um sistema aplicado pela primeira vez no mundo e que aponta para uma mudança na política de combate às drogas.
Às 8h (hora local e de Brasília), o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA) publicou a lista de farmácias que vão participar do programa. São 16 em todo país.

Em uma farmácia da Cidade Velha de Montevidéu, no centro da cidade, uma fila de compradores se formou logo cedo esta manhã. Assim que o estabelecimento foi aberto, cinco pessoas compraram a maconha estatal.

"Fumo desde os 14 anos. Vamos provar", declarou à AFP um homem de 37 anos que não quis se identificar.

Assim como o comprador, a farmacêutica responsável não quis fornecer sua identidade e se limitou a declarar que a venda de maconha com fins recreativos é "apenas mais um serviço".

Os farmacêuticos estão céticos em relação à rentabilidade do negócio. Para fazer a compra, é preciso se registrar, e cada pessoa inscrita tem direito a comprar 40 gramas mensais, a US$ 1,30 o grama.

Desde o início de maio, cerca de 5.000 pessoas se inscreveram para comprar a droga por meio desse sistema.

O governo não conseguiu firmar acordos com as grandes redes de distribuição, e o número de pontos de venda não cobre todo o território deste país de 3,4 milhões de habitantes.

Em Montevidéu, onde vive a metade da população uruguaia, há apenas três pontos de venda.

Maconha estatal

Produzida por duas empresas privadas em áreas sob vigilância oficial e sujeitas a um monitoramento da qualidade do produto, a maconha de uso recreativo é vendida ao público em recipientes branco e azul, contendo cinco gramas da droga.

Há duas variedades do produto disponíveis em embalagens seladas: "Alpha I" e "Beta I", correspondentes às variedades "Indica" e "Sativa" da planta.

Compradores, com os quais a AFP conversou, adquiriram - em todos os casos - 10 gramas da droga, sendo 5 gramas de cada variedade.

O registro do cliente é comprovado por meio de um sistema que lê suas impressões digitais, sem a necessidade de apresentar seu documento de identidade.

O cronograma para a venda de maconha ao público em farmácias foi o ponto mais conflituoso e complexo dessa lei, apresentada e aprovada durante o mandato do então presidente de esquerda José Mujica (2010-2015) como estratégia de luta contra o narcotráfico.

A legislação habilita três vias para se ter acesso à cannabis: cultivo em lares, cultivo cooperativo em clubes e venda em farmácia de maconha produzida por empresas privadas controladas pelo Estado.

Apenas cidadãos uruguaios, ou residentes legais no país, são autorizados a comprar a erva nas farmácias, o que elimina a possibilidade de comercialização para turistas.

Segundo dados oficiais, há 63 clubes de produção em funcionamento, 6.948 cultivadores privados e 4.959 consumidores em farmácias registrados oficialmente.

O ex-presidente do país, José Mujica, que promulgou a lei da legalização, disse nesta quarta-feira a um canal local de televisão que "não se pode ter preconceitos. O Uruguai está ensaiando um caminho".

"Não existe nenhum vício que seja bom, mas me parece terrível condenar uma planta maravilhosa", completou.

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