Agência France-Presse
postado em 20/07/2017 15:08
Comércios fechados, sem transporte público, ruas vazias e bloqueadas por barricadas: a Venezuela se encontra parcialmente paralisada pela paralisação cívica geral decretada pelos opositores, nesta quinta-feira (20/7) para exigir que o presidente Nicolás Maduro volte atrás na convocação de uma Assembleia Constituinte.
A paralisação de 24 horas começou às 6h locais (7h, horário de Brasília). Chamada de "hora zero" pela oposição, essa convocação intensifica as manifestações que deixaram cerca de 100 mortos desde 1; de abril.
Animada pelos 7,6 milhões de votos do plebiscito simbólico que realizou no domingo passado (16) contra Maduro e contra sua Constituinte, a oposição convocou um cessar das atividades formais e informais, mas de forma ativa. Por isso, as vias de Caracas e de outras grandes cidades do país amanheceram desoladas e bloqueadas por barricadas.
Dentro de dez dias, por iniciativa de Maduro, 545 constituintes serão eleitos para reformar a Carta Magna, uma polêmica convocatória que incendiou ainda mais as ruas.
"Tenho sete operários e vou pagar o dia a eles. Não importa que percam o dia de trabalho, se estamos perdendo um país. Eu me somo à greve para resgatar o pouco que nos resta dele", afirmou à AFP Omar, de 34 anos, dono de uma pequena construtora do sudeste de Caracas.
[SAIBAMAIS]O presidente também sofre uma forte pressão internacional para desistir de seu projeto, mas Maduro insiste em que a Constituinte prosseguirá "pela paz e pela recuperação econômica do país".
"Vai, agora mais do que nunca", declarou Maduro na terça-feira (18), diante das ameaças de sanções econômicas dos Estados Unidos.
O ato conta com o apoio da cúpula empresarial, de câmaras de comércio e indústria, de parte dos sindicatos, de estudantes e funcionários dos transportes. Já o governo controla a estratégica indústria petroleira e o setor público, com quase três milhões de empregados.
"Essa paralisação é um embate de forca entre um empresariado e uma população famélica e pauperizada e um governo também quebrado que controla os poucos recursos de um país petroleiro", opinou o presidente do instituto Datanálisis, Luis Vicente León.
Marcela Máspero, coordenadora da União de Trabalhadores da Venezuela (UNETE) - uma das principais centrais operárias do país -, afirma que muitos empregados estão sendo pressionados, mas que, mesmo assim, apoiam a greve geral.
"São dias importantes para o governo entender que uma saída democrática e pacífica para a crise, para os trabalhadores, significa retirar a Constituinte", declarou à AFP o líder sindical Froilán Barrios.
Os empresários, a quem Maduro acusa de travarem uma "guerra econômica" para derrubá-lo, apoiam a greve, alegando que a Constituinte instaurará um modelo econômico que vai piorar a crise do país, afetado por uma severa escassez de alimentos e de remédios, assim como por uma inflação voraz.
"A Assembleia Constituinte é apenas uma maneira de disfarçar a transformação da Venezuela em um Estado comunista", alertou o presidente da Fedecámaras, Carlos Larrazábal.
O movimento de greve teve início na quarta-feira, quando opositores começaram a bloquear ruas e avenidas de Caracas. Desde ontem, vigora na capital uma greve parcial de transportes contra o aumento das passagens.
Os bloqueios foram espontâneos, não convocados pela dirigência opositora.
Dezenas de estabelecimentos comerciais fecharam suas portas hoje, e muitos trabalhadores tiveram de caminhar por várias quadras debaixo de chuva, especialmente no leste de Caracas, onde os protestos se concentraram. O metrô funcionou normalmente.