Agência France-Presse
postado em 25/07/2017 08:30
Washington, Estados Unidos - O empresário Jared Kushner, genro e assessor pessoal do presidente americano, Donald Trump, negou nesta segunda-feira (24/7) à Comissão de Inteligência do Senado ter existido um conluio com funcionários russos durante a campanha eleitoral de 2016. "Deixem-me esclarecer: eu não estive em conluio com a Rússia e não sei de ninguém da campanha que tenha feito isto. Não usei fundos russos para os meus negócios e fui transparente em fornecer as informações pedidas", disse Kushner na Casa Branca, após sua audiência com os senadores.
O assessor acrescentou que "os documentos que eu, voluntariamente, forneci mostrarão que todas as minhas ações foram corretas e ocorreram no curso normal dos eventos de uma campanha excepcional". Kushner deu um depoimento à Comissão de Inteligência do Senado que durou, aproximadamente, duas horas. Pouco antes de entrar para a audiência, divulgou uma declaração escrita, de 11 páginas, admitindo ter contactado funcionários russos em quatro ocasiões, mas negou conluio com Moscou.
Admitiu ter tido contatos com o então embaixador russo, Sergei Kislyak, e com outros funcionários russos durante a campanha eleitoral, qualificando como algo normal em seu papel de mediador da equipe de Trump com os governos estrangeiros. "Com relação aos meus contatos com a Rússia ou com representantes da Rússia durante a campanha, apenas existiram", afirmou o empresário em sua declaração.
No documento, Kushner também afirmou ter tido dois encontros com o banqueiro russo Sergei Gorkov, considerado um homem próximo ao presidente Vladimir Putin. Mas assegurou que em nenhum encontro com funcionários russos foram discutidas as sanções americanas a Moscou.
Informações incompletas
Kushner também mencionou a reunião que participou durante a campanha eleitoral com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, um caso que provocou grande polêmica no início do mês. De acordo com as partes envolvidas, os dois discutiram apenas a lei que veta a adoção de crianças russas por famílias americanas.
Contudo, segundo e-mails do filho mais velho de Trump, Donald Jr, o comitê de campanha esperava receber de Veselnitskaya informações comprometedoras sobre a adversária de seu pai, Hillary Clinton, para usar na campanha.
[SAIBAMAIS]Além de Donald Jr. e Kushner, participou da reunião Paul Manafort, que naquele momento era o diretor da campanha eleitoral de Trump. Legisladores já pediram a Manafort que aceite participar de uma audiência, mas que ainda não foi agendada. A declaração divulgada nesta segunda por Kushner também confirmou que ao apresentar os formulários obrigatórios para ter acesso a informações secretas não fez menção desses encontros com funcionários ou empresários russos.
Segundo Kushner, seus formulários "foram apresentados prematuramente devido a um erro de comunicação, e inicialmente não incluía os meus contatos com funcionários de governos estrangeiros". Casado com a filha mais velha de Trump, Ivanka, Kushner prestará depoimento na terça-feira (24/7) à Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes.
Círculo mais próximo
Ao comparecer nesta segunda-feira diante dos senadores e na terça diante dos representantes, Kushner se torna o primeiro integrante do círculo familiar mais próximo de Trump a ser interrogado pela interminável polêmica sobre as relações com a Rússia.
Com somente 36 anos e conhecido por fugir de qualquer contato com a imprensa, Kushner fez fortuna - como seu sogro - no ramo imobiliário, e desde a vitória nas eleições se tornou uma peça fundamental na equipe mais próxima a Trump. Nesta segunda-feira, Kushner chegou ao local reservado aos senadores e foi recebido por inúmeros fotógrafos e câmeras, mas se manteve tranquilo e não deu declarações.
O senador democrata Ron Wyden, membro do comitê que interrogou Kushner, disse que sua apresentação ao Senado "deixou mais perguntas do que respostas" e que não deve ser assumida como "toda a verdade". "Kushner escondeu informações de maneira repetida sobre suas finanças pessoais e suas reuniões com funcionários russos", assegurou Wyden.
Donald Trump, por sua vez, observou seu genro e acredita que fez "um bom trabalho", de acordo com a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders. O presidente insiste que toda a polêmica sobre o eventual conluio com a Rússia para vencer as eleições não passa de uma "caça às bruxas".
Entretanto, a polêmica já motivou a demissão de seu conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn e do diretor do FBI James Comey. Uma investigação comandada pelo procurador especial Robert Mueller, ex-diretor do FBI, verifica a possibilidade de conluio entre a equipe de Trump e Moscou. As duas Câmaras do Congresso levam à frente suas próprias investigações.
Paralelamente, Trump retomou seus ataques ao secretário de Justiça, Jeff Sessions, que na semana passada se recusou a comandar a investigação sobre o caso russo. Nesta segunda-feira, o presidente declarou que Sessions é um secretário "sitiado". Segundo o jornal The Washington Post, já circulam rumores sobre o senador texano Ted Cruz ou o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani para o lugar de Sessions.