Rodrigo Craveiro
postado em 25/07/2017 08:59
Para Hisham S. Alqahtani, embaixador da Arábia Saudita no Brasil, a crise no Golfo Pérsico pode ser superada apenas se o Catar cumprir com todas as exigências apresentadas pelos vizinhos e cessar o apoio aos grupos extremistas. Em entrevista ao Correio, o diplomata acusou Doha de descumprir todos os acordos e compromissos firmados na região para combater o financiamento, o suporte e o acolhimento ao terrorismo. ;Nossas exigências para que Doha pare de apoiar o terrorismo e a mídia hostil não afetam a sua soberania. Fazemos questão de preservar a segurança e a integridade do Catar;, garantiu. Alqahtani lembrou que os Estados Unidos cobraram mais empenho do governo catariano em interromper o abastecimento financeiro e expulsar elementos fundamentalistas. ; O presidente americano não deixou nenhuma dúvida sobre a posição de seu país diante do apoio ao terrorismo pelo Catar;, assegurou.
O representante de Riad em Brasília também classificou a rede de TV Al-Jazeera de ;tribuna do terrorismo e fonte de produção de materiais extremistas;. A Arábia Saudita insistia no fechamento da emissora do Catar, a qual o embaixador sustenta que intenciona ;destruir a juventude e desestabilizar a paz e a segurança internacionais;. Alqahtani garante que alguns temas não aceitam discussão. ;Os mais importantes deles são a segurança, a estabilidade e o combate ao terrorismo e à criminalização de sua produção;, atestou.
[SAIBAMAIS]Em 5 de junho, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito ; membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) ; impuseram um boicote ao Catar e romperam os laços diplomáticos com o Doha, após acusarem o governo do emir Tamim bin Hamad Al-Thani de apoiar extremistas. À exceção do Egito, as demais nações deram um prazo de duas semanas para que os catarianos deixassem seus territórios.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, se reuniu com representantes dos países do Conselho de Cooperação do Golfo e informou que compreende a posição do Catar. Como o senhor vê o apoio a Doha e que tipo de ação espera dos EUA?
O secretário Rex Tillerson declarou, anteriormente: ;O Catar deve fazer ainda mais esforço para cessar o apoio financeiro e na expulsão dos elementos terroristas;. Mesmo depois da visita de Tillerson ao Golfo, o presidente Donald Trump enfatizou a importância de o Catar parar de financiar o terrorismo, e disse, em entrevista ao canal norte-americano CBN, que o Catar ficou conhecido por financiar o terrorismo e necessita parar imediatamente. O presidente americano não deixou nenhuma dúvida sobre a posição de seu país diante do apoio ao terrorismo pelo Catar quando afirmou, durante a entrevista: ;O Catar é conhecido por financiar o terrorismo e lhe dissemos que não podem fazer isso;. A respeito da base americana existente no Catar, Trump disse que tem outros países substitutos. ;Vai dar tudo certo, existem 10 países que podem receber nossas bases militares;, declarou, ao afirmar que o Catar está cantando fora do bando e que existem tentativas de colocá-lo de volta à lógica do acerto. Todas essas declarações são provas do entendimento do lado americano sobre o papel catariano no apoio e no financiamento do terrorismo, e o firme desejo de Washington em suspender os movimentos de Doha neste sentido.
O senhor crê que Tillerson será capaz de resolver a crise enquanto ele se esforça para discutir com todos os envolvidos no assunto?
As negociações de Tillerson com os chanceleres dos países boicotantes ; Reino da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, República Árabe do Egito e Bahrein ; terminaram, em Jeddah, sem chegar a uma solução. Esperamos que essa crise seja resolvida dentro do âmbito do Golfo, e que a sabedoria prevaleça entre os irmãos filhos do Catar, para atender às exigências da comunidade internacional e não apenas dos quatro países. É importante também ter certeza de que o Catar não patrocina mais o terrorismo, de maneira formal ou informal, e que vai parar totalmente com seu apoio e financiamento. O Kuwait, país mediador, sofreu também com as intervenções inaceitáveis do Catar em seus assuntos internos.
A Arábia Saudita acusou o Catar de apoiar o terrorismo, porém Doha e Washington assinaram um acordo sobre financiamento do terrorismo. Como o senhor encara este acordo? Ele não contradiz as acusações sauditas, no momento em que a Arábia Saudita faz tais acusações contra o Catar?
A assinatura de um memorando de entendimento sobre o combate ao terrorismo entre os Estados Unidos e autoridades do Catar veio como resultado das pressões e exigências repetidas dos quatro países e seus parceiros, ao longo dos anos, para que o Catar cesse o apoio ao terrorismo. Enfatizando, ainda, que este passo não é suficiente e que os quatro países vão observar atentamente o nível de sinceridade das autoridades catarianas no combate a todo tipo de financiamento, apoio e acolhimento ao terrorismo. As autoridades catarianas estão acostumadas a descumprir todos os acordos e compromissos, inclusive o último acordo de Riad de 2013, o que levou alguns países a retirar os seus embaixadores ; eles somente retornaram após a assinatura das autoridades do Catar do Acordo Complementar em 2014. Com a continuação do Catar na intervenção, incitamento e tramas, acolhimento de terroristas, financiamento de operações terroristas e divulgação do discurso do ódio e extremismo, não se pode confiar em nenhum compromisso dado por seu lado, sem colocar medidas rigorosas de controle para verificar sua seriedade no retorno ao caminho certo e natural. Os quatro países boicotantes, que apelam para o combate ao terrorismo, afirmaram a continuação dos seus procedimentos atuais, até que as autoridades catarianas cumpram as justas exigências completamente, que garantem o enfrentamento ao terrorismo e a realização da estabilidade e da segurança na região.
O Catar insiste que a lista das 13 demandas apresentadas ao seu governo são ditatoriais e uma violação à sua soberania. O que diria sobre isso?
Nossa exigência para que Doha cesse o apoio ao terrorismo e à mídia hostil não é uma imposição de tutela e, sim, uma medida pela preservação da segurança dos Estados boicotantes. Nós vemos graves tentativas de ameaçar e afetar a estabilidade do Golfo, além do evidente apoio aos grupos extremistas. Nossas exigências para que Doha pare de apoiar o terrorismo e a mídia hostil não afetam a sua soberania. Fazemos questão de preservar a segurança e a integridade do Catar. Nossos procedimentos visam proteger o Catar das consequências de seus atos irresponsáveis. A maioria de nossas políticas do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) são acordadas por entendimento, e não por imposição de tutela sobre alguém. Alegar que os países boicantes têm exigências ;impossíveis; não é verdade. É uma tentativa de contornar as exigências centradas no tratamento de interrupção do apoio aos grupos extremistas. O atendimento das exigências pelo Catar contribuirá para a superação desta crise.
O Catar lhes acusa de conspirar a fim de fechar a TV Al-Jazeera, por ser considerada uma rede que preza a liberdade de opinião e expressão numa região que viola a liberdade de expressão e os direitos humanos...
As redes de TV e os jornais administrados por Doha, publicamente e secretamente, não podem ser chamados de mídia livre. Os sauditas estão plenamente conscientes sobre a gravidade do conteúdo que os apoiadores do terrorismo estão tentando promover. A Arábia Saudita bane qualquer fonte ou site que promove a violência, independentemente da sua origem. Lamentavelmente, as autoridades de Doha são os maiores patrocinadores dessas redes e sites, tanto na região quanto na Europa. Aplicar a política de banimento contra as tribunas informativas radicais não é uma política exclusiva da Arábia Saudita, mas de todo o mundo. Exemplo disso é a França, que bloqueou alguns sites de estações de TV, como a emissora Al-Manar, que pertence ao Hezbollah. A Al-Jazeera é uma tribuna do terrorismo e uma fonte de produção de materiais extremistas, como os documentários e os debates, que contribuem para a divulgação do extremismo e terrorismo, através do acolhimento naquela região dos radicais e odiadores da Arábia Saudita, Emirados Árabes, Barein e Egito, os denominando de oposicionistas e ativistas, para divulgar suas ideologias extremistas e deixar incertezas sobre os governantes e as instituições do Estado. A TV Al-Jazeera tornou-se, há muito tempo, um dos mais importantes instrumentos dos grupos terroristas, para produzir e divulgar o conteúdo extremista. As produções suspeitas da TV Al-Jazeera revelaram a verdadeira face do governo catariano, que intenciona destruir a juventude e desestabilizar a paz e segurança internacionais. Existe algum país que permite à Al-Jazeera ameaçar sua segurança social divulgando o conteúdo extremista aos seus cidadãos?
A Arábia Saudita está disposta a dialogar a fim de procurar meios para pôr fim à crise?
Nós dialogamos muito com o Catar por 20 anos. Eles nos prometeram muito, mas não vimos o cumprimento das promessas. Os mais importantes compromissos que o Catar assumiu foram o Acordo de Riad, de 2013, e o Acordo Complementar, de 2014. Reafirmamos que não recusamos o diálogo, quando ele é construtivo e útil e com quem merece. Mas, nesta crise, o importante não é que seja direto ou indireto, o que importa é que o Catar observe a cessação de seu apoio ao terrorismo e ao extremismo. Existem assuntos que não aceitam discussão, e os mais importantes deles são a segurança, a estabilidade e o combate ao terrorismo. Este é o objetivo de todos os Estados do mundo. Com tudo isso, afirmamos que Catar é parte do tecido do Golfo, e não queremos que nenhum mal o atinja. O Catar alega que está sendo injustiçado e sofre um bloqueio. Não há bloqueio, mas um boicote. Se fosse bloqueio, como alegam, não poderiam receber os produtos que chegam para eles do Irã e da Turquia por aviões e navios. A política do Catar é ardilosa, se baseia em mentiras e enganos. É difícil cobrir o sol com a mão. A verdade referente ao Catar foi desmascarada, assim como o seu apoio ao terrorismo, e nós não vamos retroceder em combatê-lo e dissuadi-lo de seus atos ilegais.