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Policiais indianas combatem violência em país com 40 mil estupros por ano

O país apresenta um balanço lamentável em relação à violência sexual, e os especialistas acreditam que as estatísticas oficiais sobre estupros são só a ponta do iceberg e que a maioria dos casos não são denunciados

Agência France-Presse
postado em 25/07/2017 17:30
Mulheres policiais percorrem de moto as ruas de Jaipur, cidade turística do noroeste da Índia, com walkies-talkies, câmeras e cassetetes para impor a lei em um país onde ocorrem 40.000 estupros por ano.
Conhecida pelos seus palácios e fortes, a capital do estado indiano de Rajastão criou em maio uma unidade especial composta unicamente por mulheres.

Desde então, suas quase cinquenta integrantes patrulham perto dos pontos de ônibus, parques e universidades, os lugares onde os riscos de estupro são mais altos.

Na Índia, onde as autoridades costumam tratar os assédios e as agressões sexuais de forma superficial, essas policiais querem impor a ordem.

"A mensagem que queremos enviar é que não há nenhuma tolerância com os crimes contra as mulheres", explica Kamal Shekhawat, a responsável desse unidade.

O país apresenta um balanço lamentável em relação à violência sexual, e os especialistas acreditam que as estatísticas oficiais sobre estupros são só a ponta do iceberg e que a maioria dos casos não são denunciados.

A polícia nacional é amplamente masculina, com apenas 7% de mulheres entre seus membros.

Para os ativistas que tentam combater a violência sexual, isso dissuade as vítimas de denunciar as agressões, porque se sentirão julgadas por sua aparência, seu comportamento, e em alguns casos são acusadas de ter provocado o estupro.

A vergonha vinculada às agressões sexuais em uma sociedade profundamente patriarcal, assim como o medo às represálias, também contribuem para que as mulheres não denunciem os autores desses crimes.

As policiais de Jaipur esperam que o caráter exclusivamente feminino da sua unidade permita que algumas vítimas rompam seu silêncio. "As mulheres na polícia são mais empáticas. As vítimas se sentem com mais confiança e podem se expressar com maior liberdade diante elas", explica Shekhawat.

Caratê

Em um parque de Jaipur, a agente Saroj Chodhuary desce da sua lambreta e se apresenta a um grupo de mulheres vestidas com sári.

"Podem nos ligar ou inclusive nos enviar uma mensagem por Whatsapp e chegaremos logo", diz a elas. "Sua identidade não será revelada, de modo que podem se sentir livres para apresentar uma denúncia. Se alguém as assediar por telefone ou as incomodar, nos informem", acrescenta.

Sua presença parece impressionar o pequeno grupo, no qual várias mulheres começam a compartilhar suas próprias experiências em termos de assédio.

Radha Jhabua, uma mãe de 24 anos, diz que quis denunciar um vizinho que a seguia, mas seu marido a dissuadiu porque temia que isso desse má reputação à sua família. "Me pediu que ficasse calada e esperasse ele mudar de comportamento", conta.

Para cumprir sua missão, todas as policiais da unidade tiveram três meses de formação em artes marciais. "Nos ensinaram a dirigir uma lambreta e a fazer movimentos de caratê e de defesa pessoal porque, às vezes, alguns desordeiros podem nos ameaçar fisicamente. Nossa própria segurança é primordial", diz Saroj Chodhuary.

O problema da violência sexual no país de 1,25 bilhão de habitantes chamou a atenção mundial com o estupro coletivo de uma estudante de 23 anos em 2012 em Nova Délhi.

Após aquele caso, a Índia reforçou sua legislação contra as agressões sexuais e acelerou os processos judiciais para esse tipo de delitos. As autoridades também decidiram contratar mais mulheres na polícia, com o objetivo de que estas representem um terço dos funcionários.

Unidades especiais como a de Jaipur "são uma boa decisão", opina Ram Lal Gujar, morador dessa cidade. "Quando um homem é preso por essas mulheres, os demais se assustam. Vão ter que mudar seu comportamento", assegura.

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