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Constituinte de Maduro se instalará em meio à rejeição internacional

Eleita no último domingo (30/7), em meio a violentas manifestações que deixaram dez mortos no dia da votação, a Constituinte funcionará no Salão Elíptico do Palácio Legislativo


Caça às bruxas?
A Venezuela entra em uma nova etapa do conflito político com a eleição dos 545 constituintes que reformarão a Carta Magna de 1999 promovida pelo presidente Hugo Chávez, falecido em 2013.

Maduro sustenta que a Constituinte promoverá a paz e o diálogo no país. A oposição, que se recusou a participar da consulta, garante que a iniciativa foi proposta por Maduro para se perpetuar no poder, instaurar um modelo comunista e neutralizar seus críticos e adversários. Líderes do governo, entre eles Diosdado Cabello - que poderá ser presidente da Assembleia Constituinte -, anunciaram a possível dissolução do Parlamento e a reforma da Procuradoria.

"Já é passado", disse o dirigente governista Jorge Rodríguez sobre a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, cuja destituição pode ser uma das primeiras medidas. Ortega disse desconhecer a Constituinte, tendo a certeza de que sua cabeça está a prêmio. Nesse sentido, em entrevista à AFP, a ex-chanceler Delcy Rodríguez, agora constituinte, descartou uma caça às bruxas.

;Frágil, primitivo e perigoso;
Maduro garante que a Constituinte também reforçará o poder comunal para aprofundar o socialismo e tomará medidas que acabem com a dependência do petróleo - fonte de 96% da receita do país. Além disso, elevará a status constitucional as missões sociais, o controle de preços para baixar a inflação e a distribuição de alimentos subsidiados. Já a oposição acredita que Maduro tentará adiar as eleições.

Na próxima semana, vence o prazo para a inscrição de candidatos às eleições regionais de dezembro, mas tudo depende das decisões da Constituinte. "Veremos agora se os radicais de ambos os lados são tão fortes quanto dizem (...). Veremos um país muito mais fraco, primitivo e perigoso, que acabará fazendo depois o que antes teria evitado muita dor: negociar, mas em piores condições", comentou o analista Luis Vicente León.

Maduro convocou a Constituinte sem consulta prévia os venezuelanos, como já havia acontecido em 1999. Diante das fortes críticas, porém, propôs um referendo para aprovar a nova Carta Magna. Não se sabe, contudo, quando será. A promessa mais imediata é que os retratos de Chávez voltarão às paredes do Palácio Legislativo, como anunciou Cabello. As imagens haviam sido retiradas pela oposição, quando assumiu a Casa em janeiro de 2016.