Jornal Correio Braziliense

Mundo

Donald Trump promete 'fogo e ira' após ameaça da Coreia do Norte

As declarações do presidente dos Estados Unidos evidenciam uma escalada na retórica de Washington ante os programas balístico e nuclear norte-coreanos, que custaram a Pyongyang sanções mais duras da ONU no fim de semana passado


A questão se tornou ainda mais grave com as informações do jornal The Washington Post sobre os avanços militares norte-coreanos. O jornal informou na terça-feira que um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) avalia que o regime comunista norte-coreano tem armas nucleares para colocar em seus mísseis balísticos, incluindo intercontinentais (ICBM). Isto representa uma ameaça aos países vizinhos e também ao continente americano, segundo as conclusões do relatório concluído em julho pela DIA, segundo o Post.

Os especialistas têm divergências sobre as verdadeiras capacidades da Coreia do Norte, em especial a de miniaturizar com sucesso uma ogiva nuclear para introduzi-la em um míssil. A DIA chegou a conclusões similares há quatro anos, que depois foram descartadas por outros serviços de inteligência.Todos, no entanto, concordam que Pyongyang avança a grandes passos desde que Kim Jong-Un chegou ao poder em dezembro de 2011.

Em julho, o regime norte-coreano lançou com sucesso dois ICBM. O primeiro teste, que Kim Jong-Un descreveu como um presente aos "bastardos americanos", mostrou que o foguete poderia, potencialmente, atingir o Alasca. O segundo míssil testado sugeriu que até mesmo Nova York poderia estar no alvo. Trump disse que Kim Jong-Un "tem ameaçado além de sua atitude normal". As autoridades americanas repetiram diversas vezes este ano que a opção militar estava "sobre a mesa".

Críticas ao discurso
Analistas e autoridades políticas ridiculizaram as declarações do presidente americano. "Tentar superar a Coreia do Norte em ameaças é como tentar superar o papa em orações", escreveu no Twitter John Delury, professor da Universidade Yonesi de Seul.

O democrata Eliot Engel, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, lamentou a "absurda linha vermelha" traçada por Trump e que Kim Jong-Un vai atravessar inevitavelmente. "A Coreia do Norte é uma ameaça real, mas a reação desequilibrada do presidente sugere que poderia considerar o uso de armas nucleares americanas em resposta a um comentário desagradável de um déspota norte-coreano", disse.

O Post também informou que outra avaliação de inteligência acredita que a Coreia do Norte tem atualmente até 60 armas nucleares, mais do que se acreditava até então. Apesar desses avanços, especialistas asseguram que a Coreia do Norte ainda precisa superar obstáculos para poder afirmar que conseguiu aperfeiçoar sua tecnologia de armas nucleares e alcançar o território continental americano.

Após o segundo teste de ICBM, os especialistas afirmaram que a ogiva não conseguiu superar o limiar de entrada na atmosfera. Para Siegfried Hecker, ex-diretor do Laboratório Nacional de Los Álamos (Novo México), Pyongyang não tem a experiência para lançar "uma ogiva nuclear suficientemente pequena, leve e robusta para poder sobreviver a um envio através de um ICBM".