Agência France-Presse
postado em 09/08/2017 17:21
O governo venezuelano de Nicolás Maduro sofre um progressivo isolamento internacional, mas mantém apoios que podem bloquear, ou pelo menos atrasar, medidas mais duras em organismos como OEA, União Europea e a ONU, destacaram analistas.
Diante do aprofundamento da crise econômica e política no país, o governo socialista de Caracas somou condenações internacionais.
Apesar de tudo, vários países mantêm interesses políticos e econômicos que os levam a apoiar, com diferentes tons e graus de compromisso, um dirigente polêmico.
Em uma América Latina que deu uma guinada à direita, os apoios incondicionais de Caracas continuam sendo Cuba, Bolívia e Nicarágua, países com os quais divide a ideologia e o ferrenho discurso anti-imperialista contra os Estados Unidos.
Eles "são os que cerram fileiras" com Caracas, explica à AFP Anna Ayuso, pesquisadora para América Latina do centro de reflexão CIDOB, com sede em Barcelona, que vê o Equador, agora sem Rafael Correa, mais indiferente.
Outros "acham difícil romper com o legado de Hugo Chávez, que lhes deu subsídios do Petrocaribe", com o qual a Venezuela fornece petróleo a preços preferenciais a 15 países da América Central e do Caribe, assinala Paul Hare, ex-embaixador britânico em Havana e professor da Universidade de Boston.
Este último explica que a Organização dos Estados Americanos (OEA), onde cada um dos 34 países-membros tem voto, foi incapaz de adotar medidas - rechaçadas por Caracas como ingerência - para buscar uma saída à crise na Venezuela, como, por exemplo, por meio de um grupo mediador.
Petróleo e armas
Fora da região, Caracas recebe o importante apoio de China e Rússia, dois países tradicionalmente opostos a apoiar sanções internacionais, com capacidade de veto no Conselho de Segurança da ONU.
Os dois têm "interesses financeiros e estratégicos" na Venezuela, relembra Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano em Washington.
[SAIBAMAIS]Com relações estreitas sobretudo no governo de Chávez (1998-2013), Pequim e Moscou fizeram grandes investimentos no setor petroleiro venezuelano.
Além disso, desde 2006, quando os Estados Unidos proibiram a venda e a transferência de armamento e tecnologia militar americana para a Venezuela, Caracas recorreu à China e à Rússia.
A Rússia, cujo presidente Vladimir Putin considera a Venezuela um "sócio estratégico fundamental", criticou a oposição venezuelana por "perturbar" as eleições da Assembleia Constituinte, impulsionadas por Maduro para redigir uma nova Carta Magna, mas criticadas pela oposição como uma tentativa de instaurar uma "ditadura comunista".
"O apoio-chave é o da China, que tem investimentos de mais de 60 bilhões de dólares e quem dá créditos em troca de petróleo e concessões de mineração", disse Anna Ayuso. "Hoje quem garante os seus investimentos é Maduro", assinala.
Outro aliado do presidente é o Irã, que mostrou o seu apoio à Constituinte, ainda que os laços políticos não sejam tão fortes como nos governos de Chávez e Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013).
Sem sanções
A União Europeia, por sua vez, anunciou que seus 28 Estados-membros não reconhecerão a Constituinte, após uma reunião em Bruxelas em que não se chegou a um consenso, evitando debater possíveis sanções "seletivas" contra os responsáveis pela crise, promovidas principalmente pela Espanha.
Na região, os "mais contrários à imposição de sanções são Portugal e Grécia", assinalou Carlos Malamud, do Real Instituto Elcano em Madri.
Os dois governos desmentiram ter vetado as sanções, esclarecendo que a UE ainda não discutiu o tema.
De todas as maneiras, Lisboa "sempre definirá a sua posição" priorizando o bem-estar de meio milhão de portugueses que vive na Venezuela, e "não fará nada" que possa afetá-los, segundo o seu ministro das Relações Exteriores.
Quando essas sanções forem debatidas, "o posicionamento grego será conhecido", disse à AFP uma fonte diplomática do país, cujo partido governante, o Syriza, mostrou no passado a sua simpatia pelo governo chavista.
Os apoios a Maduro são duradouros? Dependerá da situação interna da Venezuela, atingida há quatro meses por manifestações opositoras que deixam mais de 125 mortos, estimam os analistas.
"É completamente concebível que se a Constituinte gerar mais caos e repressão, o governo de Maduro perca ainda mais amigos", acrescentou Shifter.