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Primárias legislativas: Argentina mede força de Kirchner frente a Macri

As primárias podem ser consideradas um plebiscito sobre o governo de Macri e um teste para medir a força da oposição

postado em 13/08/2017 18:57
As primárias podem ser consideradas um plebiscito sobre o governo de Macri e um teste para medir a força da oposição
O retorno às urnas da ex-presidente Cristina Kirchner como pré-candidata ao Senado pela oposição ao presidente Mauricio Macri concentra as atenções neste domingo das primárias obrigatórias na Argentina para as eleições legislativas de 22 de outubro.

Analistas políticos concordam que a votação marca o futuro tanto de Macri como de Kirchner. As primárias podem ser consideradas um plebiscito sobre o governo de Macri e um teste para medir a força da oposição.

"É um passo importante para confirmar tudo o que viemos fazendo. Espero que em todos lados nos expressemos a favor dessa mudança", disse Macri.

Kirchner, de 64 anos, aspira a ser senadora pela província de Buenos Aires. A ex-presidente (2007-2015) fundou neste ano um pequeno partido de centro-esquerda e se afastou do opositor Partido Justicialista (PJ, peronista) que ainda controla o Congresso. A campanha de Cristina se baseou no lema "Assim não podemos continuar".

Kirchner não votou porque seu título é de Santa Cruz, província patagônica a 2.500 km ao sul da capital.

Ela pediu a seus seguidores e fiscais de mesa que "cuidem de cada voto" e usou a rede social Twitter para desejar "boa jornada democrática" com uma foto que a retrata em frente a um computador com seu pequeno neto Néstor Iván, o filho de Máximo, sentado em seu colo.

Em sua última mensagem na quinta-feira pediu aos eleitores que lembrem "dos que perderam o trabalho ou vivem com medo de perdê-lo, dos que o salário não chega ao fim do mês, ou dos que não podem comprar comida como antes, ou pagar a luz, o gás ou a água. Esse deve ser o limite para este governo".

Macri, de 58 anos, tem um ano e meio de governo, sem conseguir os prometidos investimentos estrangeiros.

A inflação disparou em 2016 e nos primeiros sete meses de este ano acumula 13,9%, o desemprego cresceu, assim como a pobreza, e a economia estagnou.

Enquanto isso, bancos, mineradoras e produtores de soja admitem lucros multimilionários. Macri defende, por outro lado, ter eliminado o controle cambial que Kirchner (2007-2015) estabeleceu em seu mandato.

O presidente, que será testado pela primeira vez nas urnas, se pronunciou ao final da campanha: "Nunca mais ouviremos aqueles que governaram tantos anos", a quem chama de "populistas".

O sociólogo e consultor Rosendo Fraga disse à AFP que, após a recontagem, "se dirá que o Cambiemos (aliança governista) é a força nacional mais votada, com uma porcentagem que pode ser de cerca de 30%. A dispersão do opositor peronismo fará que Cristina seja a segunda, com 15%".

Disputa entre dois modelos

"Macri busca acumular forças para assegurar governabilidade e a oposição um sinal ao governo de está fazendo as coisas mal", sintetizou à AFP o sociólogo e consultor Ricardo Rouvier.

O modelo de Kirchner era industrialista, com forte presença do Estado na economia real, a pesquisa científica e os direitos humanos. Mas seu controle sobre o dólar ganhou a antipatia da influente classe média.

Macri, pelo contrário, Macri formou um gabinete de empresários, abriu a economia, desregularizou o setor financeiro, reduziu os impostos ao agronegócio e voltou a se endividar por milhões de dólares para financiar o Estado, uma ferramenta que o kirchnerismo tinha abandonado.

O macrismo acusa Cristina Kirchner de corrupção. Macri, no entanto, também esteve envolvido no escândalo do Panama Papers por ter sociedades offshore.

A troca de acusações por corrupção contra figuras kirchneristas e algumas do atual governo são moeda corrente na Argentina de hoje.

Em outubro, os argentinos renovarão a metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Até agora em minoria, Macri fechou alianças legislativas com peronistas afastados de Kirchner.

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