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Ex-procuradora venezuelana vem ao Brasil depois de Maduro pedir sua prisão

Ortega estava fortemente protegida por guardas em sua chegada ao aeroporto de Brasília, onde participará nesta quarta-feira de um encontro oficial de procuradores do Mercosul a convite da Procuradoria brasileira


Para Mauricio Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, há uma mensagem clara nessas viagens de Ortega, primeiro para a Colômbia e agora para o Brasil. "É algo que ressalta aina mais essa dissonância entre o governo da Venezuela e a maioria dos países vizinhos", avalia Santoro.

A ira de Caracas
Maduro acusou Ortega de trabalhar "há tempos com os Estados Unidos para prejudicar" seu governo, depois que autoridades americanas descobriram, segundo ele, supostos delitos do parlamentar. "Os Estados Unidos conseguiram chantagear o ex-deputado Germán Ferrer, o chantagearam porque descobriram suas contas no mundo inteiro. O quebraram moralmente", afirmou Maduro.

Ferrer enfrenta uma ordem de prisão sob a acusação de liderar uma rede que extorquia empresários corruptos de dentro da Procuradoria. O presidente venezuelano também alfinetou Santos, depois que este declarou Ortega, que garante que ela e seu marido sofrem perseguição política, "sob proteção" de seu governo. "Tomara que você se retifique e desça da nuvem de prepotência que tem em Bogotá", disse Maduro, dirigindo-se a seu homólogo colombiano.

O divórcio definitivo ocorreu com a instalação da Assembleia Constituinte, com a qual Maduro pretende mudar a Constituição no âmbito de protestos opositores que deixaram 125 mortos nos últimos quatro meses. Ortega se opôs à Constituinte, tentando inviabilizá-la com vários recursos judiciais, que foram desestimados. A Assembleia Constituinte, eleita em 30 de julho sem a participação da oposição -que a considera uma "fraude"- destituiu Ortega em sua primeira sessão.

O vínculo com a Odebrecht
Antes de chegar a Bogotá, a ex-funcionária participou por videoconferência de um encontro de procuradores, realizado na sexta-feira em Puebla, México.

Lá Ortega acusa o presidente Maduro de envolvimento no escândalo de corrupção internacional da empreiteira Odebrecht. "Temos o detalhe de toda a cooperação, montantes e personagens que enriqueceram e esta investigação envolve o senhor Nicolás Maduro e seu entorno", disse a ex-funcionária.

No domingo, Maduro contra-atacou. Em entrevista à televisão venezuelana, ele disse que a ex-procuradora bloqueou investigações ordenadas por ele sobre casos de corrupção. Segundo o chefe de Estado, Ortega alertou as empresas vinculadas ao setor petroleiro que estavam sob suspeita em troca de "milhões de dólares".