Agência France-Presse
postado em 01/09/2017 09:30
Representantes do México, Estados Unidos e Canadá se reúnem nesta sexta-feira (1/9) na capital mexicana para a segunda rodada de renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). As negociações acontecerão entre os dia 1 e 5 de setembro após o primeiro encontro realizado em Washington de 16 a 20 de agosto, em que foram estabelecidas diretrizes e temas a serem discutidos.
Os três sócios esperam concluir as negociações antes do fim do ano para que não interfiram nas eleições legislativas dos Estados Unidos e nas presidenciais do México de 2018. A rodada de negociação acontece em meio a repetidas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abandonar o acordo comercial vigente desde 1994.
"Temos que considerar essa possibilidade", disse nesta sexta-feira, à emissora Televisa, Juan Pablo Castañón, presidente do Conselho Coordenador Empresarial, que participou de um diálogo do governo com o setor privado. O empresariado pediu para o governo criar imediatamente um "plano B", que explore possibilidades de comércio com os outros 45 países com os quais o México tem acordos e que seja garantida a segurança jurídica para os investimentos.
"Exportamos aos Estados Unidos, com as regras do Nafta, 37% (das exportações mexicanas), se o Nafta deixar de existir, o impacto é em média de 4% que teríamos que pagar para exportar para lá. O que temos que fazer imediatamente é baixar os custos para as empresas, dar incentivos à exportação", propôs.
Trump tem qualificado o Nafta como o pior acordo comercial já assinado e o culpa pelo desemprego no país e o déficit de cerca de 64 bilhões de dólares que tem com o México. Pelo Twitter, Trump ameaçou abandonar unilateralmente o tratado, com base na Cláusula 2205, que estabelece que ele só precisa dar um aviso prévio de seis meses, apesar de especialistas acreditarem que o Congresso americano pode intervir na decisão.
[SAIBAMAIS]O México disse que não vai negociar o acordo pelas redes sociais, e o chanceler Luis Videgaray definiu as ameaças como o estilo peculiar de Trump de fazer negócios. "Considera-se que (a ameaça) poderia ser parte da estratégia de Trump para pressionar o México e o Canadá para aceitar suas condições", apontaram analistas do banco Santander. O México espera chegar a um acordo benéfico, apesar das ameaças e de estar trabalhando em um plano B para reduzir sua dependência dos Estados Unidos.
Temas delicados
Nas discussões do Nafta há temas sensíveis como a proposta dos Estados Unidos de eliminar o Capítulo 19 do tratado referente à solução de controvérsias, que o governo canadense considera inaceitável, e que o banco Scotiabank qualificou como "uma linha vermelha".
Também preocupa a insistência de Washington em diminuir seu déficit comercial através de uma negociação comercial, pois os especialistas garantem que o saldo negativo se deve a fatores estruturais dos Estados Unidos. "O déficit não obedece a um tratado estar bom ou ruim, mas às questões macroeconômicas", disse à AFP Carlos Serrano, economista-
chefe do BBVA Bancomer.
Outro tema sensível é a proposta americana de endurecer as regras de origem na região, isso é, o conteúdo que devem ter os produtos para não pagar tarifas. É um tema importante para a vital indústria automotora do México.
Apesar das ameaças, especialistas esperam que as negociações levem a bons resultados. "Esperamos negociações que melhorem e modernizem o tratado , de forma que seja positivo para os três países", completou Serrano.
Paralelamente à reunião, organizações sociais e sindicatos realizaram um protesto em frente ao Congresso mexicano contra o neoliberalismo e uma "renegociação secreta e entreguista" do tratado. As manifestações, contudo, não são muito cheias e têm pouca influência sobre o governo.