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Com altos e baixos, Brasil cumpre missão militar no Haiti

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse à AFP que a avaliação desses treze anos de missão é "extremamente positiva".


A liderança da Minustah também serve de credencial para a futura candidatura do Brasil a novas missões de paz em outras partes do mundo. Para o doutor em Relações Internacionais e representante especial da OEA no Haiti entre 2009 e 2011, Ricardo Seitenfus, a Minustah "foi muito mais importante para o Brasil do que para o Haiti".

Além de aproximar o Brasil de seus parceiros regionais, a missão enviada durante o primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva funcionou "como um cartão de visita da diplomacia brasileira", afirmou Seitenfus em entrevista à AFP. Apesar dos benefícios trazidos para o Brasil, a presença estrangeira na ex-colônia francesa não deveria ter se estendido além de 2010, opina o especialista.

"O Haiti precisava de uma pequena e curta missão de paz, porque não tinha problema de guerra civil, não tinha possibilidades de genocídio, de conflitos religiosos, raciais", avalia. "O problema do Haiti era pura e exclusivamente de segurança pública, que devia ser vinculado muito mais a uma inteligência policial e a uma ação policial do que a uma intervenção militar", explica.

A introdução do cólera e os escândalos sexuais acabaram manchando a atuação dos capacetes azuis, que, segundo Seitenfus, deveriam ter sido substituídos depois do terremoto por uma operação focada no desenvolvimento econômico.

E agora?
Quando os soldados estrangeiros partirem, no dia 15 de outubro, a ONU destacará uma nova missão chamada Missão das Nações Unidas para o apoio da justiça no Haiti (Minujusth). Esta nova força será encarregada de formar, ao longo de dois anos, os agentes da polícia nacional haitiana e contará com cerca de 1.275 policiais internacionais.

Profissionalizar seus policiais é um aspecto chave para este país, que desmobilizou seu exército em 1995 para afastar a ameaça de um novo golpe militar. A Polícia Nacional do Haiti (PNH), criada neste ano, conta atualmente com 13 mil agentes, um número insuficiente para garantir a segurança de cerca de 11 milhões de habitantes.

Após dois anos de crise eleitoral, o Haiti conseguiu renovar a totalidade de seu quadro político, mas a situação da ilha continua sendo preocupante: ostenta o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Américas, com mais de 70% das moradias sem saneamento básico e 40% da população analfabeta.