Agência France-Presse
postado em 11/09/2017 16:10
Benjamin Netanyahu inicia nesta segunda-feira (11) na Argentina a primeira visita à América Latina de um primeiro-ministro em exercício desde a fundação do Estado de Israel, com o objetivo de promover relações comerciais e diplomáticas
Netanyahu se reunirá em um encontro privado nesta segunda com a comunidade judaica argentina, de cerca de 300 mil membros, a segunda maior das Américas atrás da dos Estados Unidos. Sob rigorosas medidas de segurança, Netanyahu chegou ao meio-dia no aeroporto internacional de Ezeiza, 30 km ao sul de Buenos Aires, juntamente com sua esposa, Sara, e uma delegação de 30 empresários.
Na terça-feira, ele será recebido pelo presidente Maurício Macri na sede do governo, a Casa Rosada, a única atividade de sua agenda aberta à imprensa. Netanyahu receberá arquivos digitais com dezenas de milhares de documentos da Segunda Guerra Mundial, informou a Agência de Notícias Judaica.
Trata-se da transferência eletrônica para Israel de 139.544 documentos e fotografias históricas como parte de uma iniciativa conjunta da Chancelaria argentina e do Museu do Holocausto dos Estados Unidos. A visita marca o início de um giro que se estenderá até 15 de setembro e que inclui escalas em Colômbia e México, antes de Nova York, onde Netanyahu participará da Assembleia Geral da ONU.
Pelas vítimas
Nesta segunda-feira à tarde, o primeiro-ministro participará de uma homenagem às vítimas do atentado à embaixada de Israel em Buenos Aires cometido em 17 de março de 1992, e que deixou 29 mortos. Também prestará homenagem às 85 vítimas fatais e centenas de feridos no ataque em 1994 contra a associação judaica AMIA. Os dois crimes continuam impunes.
[SAIBAMAIS]Israel acusa o movimento xiita libanês Hezbollah de ter sido o responsável pelo atentado contra a embaixada. Os investigadores argentinos acusaram cinco ex-políticos iranianos de estarem por trás do do atentado na Amia. O Irã nega envolvimento. Em Buenos Aires também realizará um encontro bilateral com o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que viajará na terça-feira especialmente para se encontrar com o chefe de Estado. Netanyahu e Cartes vão discutir os avanços nas negociações entre o Mercosul e a União Europeia.
Apoio e repúdio
A influente organização DAIA, representação política da comunidade judaica argentina, deu as boas-vindas a Netanyahu. "Celebramos a aproximação entre a Argentina e Israel e expressamos nosso desejo de ver um fortalecimento do vínculo que une estas duas nações aliadas", destacou a organização em um comunicado.
No lado oposto, o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel repudiou a visita israelense. "Ele é acusado de cometer crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional por matar civis bombardeando escolas, hospitais e mesquitas palestinas. Além disso, protege um repressor da última ditadura argentina", declarou Pérez Esquivel.
O Nobel argentino citou a recusa de Israel de extraditar o militar argentino Teodoro Anibal Gauto, alvo de um mandado de captura internacional da Interpol e acusado de cometer crimes contra a humanidade na última ditadura militar do país (1976-83). A visita de Netanyahu vai alterar o ritmo na capital argentina, com ruas bloqueadas para o trânsito e um forte esquema de segurança no centro da cidade.
Organizações humanitárias e partidos de esquerda anunciaram para terça-feira uma passeata em repúdio à presença do primeiro-ministro israelense. "Vamos marchar em repúdio à presença deste genocida e em solidariedade ao povo palestino", anunciou na semana passada Tilda Rabi, presidente da Federação das Entidades argentino-palestinas.