Mais de 200 mil de pessoas foram às ruas em toda a França para protestar contra a reforma trabalhista do presidente Emmanuel Macron, em plena queda de popularidade, no primeiro dia de manifestações que testam sua capacidade de transformar a segunda maior economia europeia.
[SAIBAMAIS]Os sindicatos convocaram cerca de 200 protestos em todo o país contra o projeto que pretende flexibilizar o mercado de trabalho, fundamental no programa de governo de Macron.
A CGT estimou em cerca de 400 mil os manifestantes que responderam ao seu chamado no país, 60 mil só Paris. A polícia reduziu a estimativa na capital francesa a 24 mil.
O Ministério do Interior, por sua vez, calculou que 223 mil participantes no país todo.
"Estou aqui para me manifestar contra um ataque ao código trabalhista que nunca antes na história tínhamos visto", disse à AFP Evelyne Deurilla-Feer.
"O código trabalhista deve proteger os empregados. E o que o Macron fez? Um código para proteger os empresários e as empresas. É um escândalo", completou a aposentada indignada.
A mobilização "teve certo nível", reconheceu o porta-voz do governo Christophe Castaner, que explicou à emissora CNews que o executivo vai escutar as preocupações para respondê-las.
A marcha em Paris foi interrompida em várias ocasiões por confrontos, e as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e um canhão de água.
Os manifestantes lembraram de uma declaração polêmica de Macron, que, na semana passada, advertiu que não cederá nada aos "preguiçosos, cínicos, ou extremistas".
Em alguns cartazes, se lia "Os preguiçosos estão em marcha" ou "Macron, se ferrou, os preguiçosos estão nas ruas".
Em Marselha, a polícia contabilizou 7.500 manifestantes, enquanto os organizadores estimaram 60 mil.
No protesto, o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que se tornou o principal opositor de Macron, prometeu que "vai fazer recuar" o jovem presidente de 39 anos.
Também foram registradas greves que afetaram os transportes. A Torre Eiffel ficou aberta, mas os turistas só podiam subir até o segundo andar, devido à paralisação de parte da equipe.
Revisão do modelo social francês
Primeiro grande desafio de seu mandato, a reforma trabalhista de Macron pretende reforçar o papel negociador das empresas sobre as condições de trabalho e limitar as indenizações por demissão sem justa causa.
A meta de Macron é dar mais flexibilidade às empresas para estimular as contratações e frear o desemprego, que afeta 9,5% da população ativa na França, contra a média de 7,8% na Europa.
Também pretende ganhar a confiança dos sócios europeus, que exigem há vários anos reformas estruturais na França.
Para impor as mudanças, Macron optou pelo método acelerado de decretos, com o objetivo de evitar um longo processo de debate legislativo.
Os cinco decretos serão apresentados ao Parlamento para sua aprovação até o fim de 2017, onde Macron tem ampla maioria.
Os sindicatos avaliam que a reforma dá todos os poderes às empresas e corta os direitos dos trabalhadores, mas a frente sindical está dividida.
Dois dos principais sindicatos franceses, FO e CFDT, não apoiaram a convocação de greve da CGT.
A reforma trabalhista é uma parte fundamental da agenda de Macron e o primeiro passo para uma revisão mais ampla do modelo social da França.
Os protestos acontecem em um momento delicado para o político, cuja popularidade desabou desde que assumiu, em maio. Uma pesquisa recente mostrou que apenas 40% dos franceses estão satisfeitos com seu trabalho.
"O sentimento de que essa reforma não é justa começa a se instalar, o que não é um bom sinal" para Macron, apontou Frédéric Dabi, do centro de estudos Ifop.